A cadeira de balanço não se movia. As bolinhas que usava para recuperar os movimentos da mão nem sequer existiam. Sua maquina de costura, aquela que eu rabisquei com giz de cera, foi doada para um parente distante. Suas roupas foram todas embora. Até mesmo o seu velho óculos recebeu um fim.
Tenho medo que algum dia, ao olhar para suas fotos guardadas em um álbum empoeirado, eu nem ao menos consiga me lembrar dos momentos que vivi ao seu lado.
Talvez você realmente suma aos poucos, mas as lembranças daquele dia vão sempre rondar minha mente.
Acordei cedo, um pouco mais animada que nos últimos dias e falei que iria te ver; que depois de algum tempo sem ver seu lindo rosto eu finalmente te veria. A resposta que tive não foi feliz. “Você não vai precisar ir, ela está voltando pra casa...”.
Sei que eu era apenas uma criança, mas na hora eu soube exatamente o que aquela frase queria dizer.
Eu realmente te vi no mesmo dia. Você estava tão serena, parecia que estava dormindo em meio a todas aquelas flores. Por que não acordou? Por que não veio reclamar de eu estar com os pés no chão frio? Por que ficou apenas deitada lá, sem fazer nada? Não percebia que eu estava chorando? Por que não pude mais te ver depois daquilo? Eu ainda era tão nova para ficar sem você.
Lembro que sempre dizia que seu sonho era ver que eu estava estudando; que eu entrei em uma boa faculdade. Eu estou aqui agora, mas cadê você... Vovó?