Caçada Sombria (Em Andamento)
Sabrina Ternura Co-Autores Mr Black
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Tipo: Romance ou Novela
Postado: 17/10/21 02:36
Editado: 02/06/23 16:41
Qtd. de Capítulos: 6
Cap. Postado: 17/10/21 02:36
Avaliação: 10
Tempo de Leitura: 14min a 19min
Apreciadores: 2
Comentários: 1
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Palavras: 2342
Não recomendado para menores de dezoito anos
Caçada Sombria

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Capítulo 1 A Criança Amaldiçoada pelo Ódio

Quando Catharina segurou pela primeira vez seu filho nos braços, ela soube que ele seguiria por um caminho de desgraça. Levemente ensanguentado e enrolado em um trapo velho, o bebê de pele pálida e cabelo escuro como a noite, possuía uma mancha negra de tamanho mediano em seu peito. Reza a lenda que, quando uma mulher triste é violentada por um homem cruel, uma criança amaldiçoada pelo ódio nasce. Tendo em vista que essa era a história da prostituta Catharina e do duque Gutemberg, a moça instantaneamente soube que seu filho havia nascido para morrer.

A jovem mãe passou delicadamente o dedo indicador sobre a mancha negra disforme e encarou com pesar os intensos e inquietos olhos negros de seu bebê que, apesar de ter acabado de nascer, não chorava. O que será de você, pequenino?, Catharina pensou, Filho de uma prostituta e de um homem cruel… Por que será que, quando olho para você, só vejo dor?. A jovem sentia algo formigar em seu peito, na mesma proporção em que um desconforto crescente ardia em seus olhos por imaginar a vida terrível que seu filho viria a ter. A mãe aproximou de seu rosto o peito do filho e deixou que suas lágrimas de desespero caíssem sobre a mancha em uma vã tentativa de apagá-la. A parteira, que estava organizando seus instrumentos de parto enferrujados, perguntou a Catharina sem se virar para encarar a jovem e seu bebê:

— Já fiz a minha parte, agora faça a sua e me pague.

Catharina levantou os olhos chorosos e encarou as costas da velha parteira com nojo. A mulher, que fedia e parecia não tomar banho desde o dia em que havia nascido, trabalhava em um ambiente ainda mais sujo que ela. A jovem se virou e pegou sua bolsa, onde havia um lenço branco limpo, duas mudas de roupa de inverno para o bebê e para ela e 35 jeckes em moedas. Catharina segurou com firmeza seu filho, se apoiou na beirada de um móvel e, com um imenso esforço, se levantou. Seu corpo todo parecia mil vezes mais pesado do que fora durante toda a gravidez, além da exaustão crescente que parecia querer engoli-la. Ela começou a caminhar e deixou as moedas em cima da mesa ao lado da mulher. A parteira olhou fixamente para o dinheiro, como se o estivesse contando, e disse:

— Trabalho finalizado. Caso queira tomar um banho, há uma banheira lá atrás.

Catharina já estava pegando sua bolsa e paralisou quando a mulher de dentes podres disse aquilo, afinal, se o local de trabalho dela era sujo daquela forma, a sala de banho deveria ser limpa com esterco. O estômago da jovem embrulhou só de pensar a respeito, pois, apesar de ser uma puta, ela sempre fora limpa. Ela só havia escolhido aquela parteira, porque era o que seu dinheiro conseguia pagar.

— Não, obrigada. — Respondeu Catharina, pegando sua capa e cobrindo seu corpo e o de seu neném.

Quando a mão de Catharina pousou na maçaneta grudenta da porta, a parteira declarou:

— Seu filho puxou seu útero quando nasceu. — A velha apontou para um frasco de vidro empapado de sangue que continha um órgão dentro. — Como consequência por esse pecado, a Deusa o amaldiçoou com essa mancha.

A parteira encarou Catharina com um misto de maldade e ironia, como se estivesse sugerindo que elas fizessem alguma coisa a respeito daquela situação. A jovem não se abalou e segurou com um pouco mais de força o pequeno corpo do filho por baixo de sua capa felpuda.

— Meu filho podia ter puxado a minha alma e eu não me importaria. — Catharina respondeu com rispidez.

— Cuidado com o que diz em voz alta…. — A velha, com um sorriso sádico nos lábios, apontou para o telhado de palha de seu consultório, onde haviam diversos esqueletos pendurados. — A Deusa gosta de comer a alma dos meninos que machucam suas mães.

Catharina revirou os olhos e saiu do chiqueiro em forma de consultório sem olhar para trás. A jovem caminhou com dificuldade até se afastar um pouco da casa. Apesar de ser uma manhã de inverno, uma brisa quente soprava e os raios tímidos do sol esquentavam a pele dela. Mentalmente, ela agradeceu por aquele afago quase divino e também por não estar frio ao ponto dela e do bebê morrerem congelados.

Após andar por um tempo, ela encontrou um riacho, onde rapidamente banhou seu bebê e o enrolou com sua capa para que ele não ficasse com frio, colocando a roupinha limpa e quente nele. Em seguida, tomou um banho para tirar todos os resquícios de sujeira do parto de seu corpo e do local imundo em que estivera outrora. Apesar da água estar terrivelmente fria, a jovem não se importou e esfregou com empenho seu corpo de cor alva.

Quando Catharina se secou e colocou seu velho, mas limpo vestido de inverno, ela sentiu que era humana de novo, apesar do desconforto que sentia por todo corpo e da aguda dor no pé de sua barriga. Ela pegou seu bebê no colo e se sentou aos pés de uma enorme árvore próxima do riacho, enrolando seu corpo e o do bebê com a capa. Os raios de sol finalmente tomavam toda a extensão do gramado, aquecendo a mãe e o bebê. O menino colocou sua pequena mão sobre o seio da mãe, como se estivesse pedindo para ser amamentado. Catharina se sobressaltou com a calma da criança que, apesar de ter fome, não chorou para ser alimentado. Sem hesitar, a jovem mãe abaixou o corpete do vestido, revelando seu seio e o menino instantaneamente abocanhou o mamilo, como se soubesse exatamente o que fazer.

Catharina não soube explicar se era o calor emitido pelo sol ou se seu corpo finalmente estava começando a se aquecer após o banho, mas algo dentro dela instantaneamente começou a queimar. Pela primeira vez na vida, ela se sentiu completa, como se aquela conexão natural de mãe e filho fosse o pedaço perdido que ela procurou durante toda a sua vida. A jovem sorriu de verdade pela primeira vez em seus 18 anos de existência, pois, naquele momento, tudo se encaixava. Ela e seu filho se encaixavam. Catharina, a prostituta que havia falhado em amar, havia acabado de descobrir o verdadeiro significado do amor. Ela passou a mão sobre a rala cabeleira escura do bebê, segurou a pequena mão do filho e olhou com muito carinho para o menino, que também a encarava de forma recíproca. Foi nesse momento que ela descobriu que aquela posição era a sua favorita.

— Ele é um menininho muito amável. — Afirmou uma voz feminina sentada ao lado de Catharina.

A jovem se assustou, pois não havia percebido a chegada dessa outra mulher. Até mesmo o bebê, que mamava com empenho, deixou a tarefa de lado para olhar quem era. Mãe e filho encaravam a mulher de pele morena, vestido branco de manga curta e de longos cabelos castanhos encaracolados, que aparentava ter 25 anos. Apesar do susto de sua chegada, Catharina estranhamente não se sentiu ameaçada por aquela desconhecida e, aparentemente, nem mesmo o bebê se sentia, pois em seguida ele retornou ao seio. Por isso, Catharina sorriu quando a respondeu:

— Sim, ele é muito amável. E também é muito esperto, mas sou suspeita para falar sobre isso.

— E qual é o nome desse pacotinho faminto? — A mulher desconhecida perguntou, franzindo levemente o cenho, como se estivesse encantada ao olhar para a criança.

Catharina encostou a cabeça na árvore e olhou para o céu, pois havia se esquecido completamente de dar um nome à criança. As emoções das últimas horas não permitiram que ela pensasse a respeito, afinal ela havia passado a madrugada inteira em trabalho de parto e tudo o que queria fazer após o nascimento do filho, era sair daquele lugar imundo.

— Ele ainda não tem um nome… — Catharina respondeu com sinceridade.

A mulher desconhecida acenou positivamente com a cabeça e se encostou no tronco da árvore. Ambas as mulheres permaneceram em silêncio, enquanto observavam ora a mudança do céu, ora o pequeno menino mamando. Neste tempo em que nada havia sido dito, Catharina se esforçou para pensar em um nome para o filho, mas nenhum lhe parecia adequado. Uma suave brisa quente soprou e, como um sussurro gentil vindo da natureza, Catharina ouviu claramente um nome sendo dito em seu ouvido.

— Blake. — A jovem disse abruptamente, como se tivesse tido uma epifania. — O nome dele é Blake Derick Black.

A jovem sabia que Black era o sobrenome utilizado para denominar os bastardos de um duque e que isso, provavelmente, assombraria Blake por toda a sua vida, porém Blake Derick fora o nome do pai de Catharina, que morreu quando ela tinha apenas quatro anos de vida, sendo um dos homens mais gentis que ela conhecera. Ela esperava que seu filho tivesse a mesma bondade de alma que seu pai tivera. A mulher desconhecida fechou os olhos e sorriu, como se houvesse uma imensa satisfação em escutar o nome da criança. Após isso, ela declarou:

— Blake Derick Black, nascido em um dia quente do inverno mais frio dos últimos anos, veio ao mundo na madrugada de 4 de julho. — A mulher colocou delicadamente o dedo indicador na testa do menino, que havia parado de mamar, como se estivesse abençoando-o. — Que a sua vida seja feliz e que seus anos ultrapassem a quantidade de estrelas no céu. Não importa o quão escuro seja o caminho, nunca desista de procurar a luz que existe dentro de você.

Blake, que até então não havia chorado, chorou alto, como se aquela tivesse sido a primeira vez que o ar tivesse entrado em seus pulmões. Catharina levantou o corpete de seu vestido e começou a balançar o filho, tentando fazê-lo parar de chorar, mas ela também chorava, pois as palavras daquela mulher desconhecida, por algum motivo inexplicável, encheram o coração dela de esperança. Naquele instante, a mãe instantaneamente soube que seu filho teria um futuro, pelo simples fato daquela mulher ter lhe desejado isso.

A desconhecida se levantou e começou a caminhar na direção do bosque que ficava atrás do riacho. Catharina a chamou:

— Espere! Qual é seu nome?

A mulher desconhecida se virou e olhou para Catharina.

— Eu ainda não tenho um nome, mas um grande amigo meu costuma me chamar de Ternura.

A jovem, sendo tomada por um sentimento imenso de devoção, fez uma reverência com a cabeça, enquanto Blake chorava em seus braços. Ternura sorriu e começou a andar novamente na direção do bosque. Foi neste momento que Catharina percebeu que a mulher estava descalça e que pequenos brotos de flores desabrochavam conforme ela andava. Algumas folhas começaram a cair da árvore em cima da jovem e de seu bebê, fazendo com que ela se distraísse e não visse para onde Ternura havia ido. Catharina sorria e chorava, enquanto o choro de Blake soava como uma suave melodia em seu ouvido. Um intenso sentimento de gratidão começou a nascer no coração da jovem e, pela primeira vez, ela se sentiu grata por estar viva e por ter a oportunidade de se sentir daquela maneira depois de ter passado por tantas coisas ruins.

Quando Blake se acalmou e adormeceu, Catharina começou a pensar no que faria a partir de agora. Infelizmente, ela não tinha um lar para levar seu filho, pois sempre morou nos bordéis em que trabalhou. Aquilo a devastava por dentro, afinal ela queria que seu filho tivesse todas as coisas boas que ela podia dar. Além disso, ela teria que abandonar a prostituição, tendo em vista que as donas dos bordéis não aceitavam prostitutas que tinham filhos. A única saída que ela via era a mais óbvia: ela e o bebê teriam que morar nas ruas por um tempo, até que ela conseguisse um trabalho. Talvez, inicialmente, ela pudesse produzir e vender seus próprios remédios feitos com ervas, afinal Catharina possuía um exímio conhecimento de botânica. Um de seus clientes mais fiéis, era um homem de meia idade que trabalhava como farmacêutico e, muitas vezes, Catharina pedia que ele trouxesse livros que abordavam o assunto em troca de favores sexuais. Ela sempre achou simplesmente incrível o potencial que a natureza tinha em ajudar as pessoas.

Tendo em mente este plano, a jovem colocou as mãos apoiadas no chão para se levantar, porém tocou algo. Quando ela olhou para o lado, se surpreendeu: no lugar onde Ternura estivera sentada anteriormente, havia uma pequena bolsa. Catharina forçou as pontas dos dedos no tecido e soube que se tratava de moedas. Com certa insegurança, ela pegou o pequeno tesouro que estava ao seu lado e o abriu. Dentro da bolsa, havia diversas moedas de ouro, mas o que mais chamou a atenção da jovem, foi o colar que possuía um pingente de turmalina negra em formato de coração.

— Ela… — Catharina começou a dizer, mas estava muito emocionada para falar qualquer coisa, pois estava claro que Ternura havia deixado aquela quantia de dinheiro para que Catharina e Blake pudessem ter uma vida nova.

Após esse dia, a vida de Catharina mudou. Ela conseguiu comprar uma pequena cabana localizada no Bosque das Flores e, com o restante do dinheiro, pôde sustentar a si mesma e seu bebê sem passar por dificuldades. Ela começou a fabricar medicamentos com ervas e os distribuía gratuitamente entre os moradores do Bosque, que sempre a elogiavam por sua bondade e gentileza. Blake, durante seus primeiros seis anos de vida, aprendeu muito com sua mãe, tornando-se um menino esforçado, educado e gentil, além de mostrar clara facilidade com a caça. Ele cresceu ouvindo sobre a história de seu nascimento, onde sua mãe conheceu uma generosa Deusa e o próprio Blake foi abençoado por ela.

A vida de mãe e filho estava tranquila e feliz, entretanto, quando o inverno do sétimo aniversário de Blake chegou, o menino sentiu que algo além da temperatura começara a congelar, pois era como se sua alma também estivesse esfriando. Foi com este indício de mau presságio que Blake começou a sentir que jamais seria feliz novamente.

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Apreciadores (2)
Comentários (1)
Postado 17/10/21 20:53

Já é permitido chorar - mesmo que internamente - pela mãe do Blake?Algo me diz que depois daqui a coisa só vai piorar, no nível tempestade depois da calmaria, vulgo Garraduende.

Brinis, toda vez que eu acho que conheço nosso universo, você vai lá e ri na minha cara. Acho isso tão lindo! Imperatriz que sofra para acompanhar! kkkkkkkkkkk

Eu já sinto a profundidade da historia do Blake e agora passo a entender - mas ainda não aceito - os motivos dele ter escondido que tinha celular. E, sim, eu sempre vou bater na mesma tecla! u_u

Parabéns, Divindade, Deusa toda poderosa!

P.S.: Seguuuuuuura peão! kkkkkkkkkkkk

Postado 30/10/21 23:24

KKKKKKKKKKK, amiga você é tudo!

Obrigada pela presença e comentário, Flavinha ♥

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