Mermaid (Em Andamento)
Silva
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Tipo: Romance ou Novela
Postado: 14/10/21 19:04
Editado: 22/10/21 10:55
Qtd. de Capítulos: 2
Cap. Postado: 14/10/21 19:04
Cap. Editado: 14/10/21 23:25
Avaliação: 9.84
Tempo de Leitura: 6min a 9min
Apreciadores: 4
Comentários: 3
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Palavras: 1102
Não recomendado para menores de dezoito anos
Mermaid
Capítulo 1 Aparição

Londres, 1912

Existe algo no mar que me perturba. Que faz-me estremecer todas as vezes que caminho pela praia durante a noite. Além da morte, minha plena certeza é que jamais tornarei a entrar naquelas águas. A razão de meu temor começou há pouco mais de trinta anos, quando era um jovem e ansiava por novas ideias após publicar meu primeiro romance. Entre minhas leituras usuais, Moby Dick me fazia saltar os olhos. A lendária baleia que causava aos leitores tanto o tenro encanto quanto um delicioso temor. Era isso, pensei comigo mesmo. Meu próximo escrito seria sobre as profundezas onde vivem tais criaturas.

E talvez com a história certa, poderia ter semelhante sucesso e consolidar a carreira como um autor de prestígio. Naquela época, Tom Barker tinha algum resquício de coragem e ambição. Numa singela manhã de abril, embarquei no Netuno a fim de documentar o percurso e demais pormenores duma tripulação de marinheiros ingleses. Era um barco de pesca, famoso por voltar de suas viagens triunfante e cheio de peixes. A frente da embarcação estava o capitão John Lewis, homem austero e um velho lobo do mar como poucos de sua época. Apesar das rugas na testa e dos cabelos brancos, mantinha no olhar severo a intrepidez de alguém que conhecia o mar como a palma da mão.

Confesso que não era dos mais atléticos, no máximo tinha boa saúde, embora fosse um rapaz franzino e dado aos livros cujos olhos precisavam de óculos redondos para ver com nitidez. Todavia, riscos fazem parte de toda grande narrativa e eu estava disposto a tomá-los. Lembro-me que o dia começou ensolarado, com a brisa da manhã embalando meus cabelos castanhos, parecia anunciar uma viagem de sucesso. Subi a bordo e apresentei-me ao capitão com a cordialidade dum aperto de mão. Ao contrário da minha, sua palma era áspera e calejada. Lhe falei que seria uma honra poder acompanhar a viagem.

― Tem mãos lisas meu jovem... Um privilégio vindo de sua boa educação! - Comentou com humor tirando o cachimbo da boca. ― S.r. Barker, não me entenda mal, mas a única razão pela qual está na minha bela embarcação é porque devo favores a seu estimado pai. - O capitão pós a mão sobre o meu ombro. Prosseguiu:

― Por isso não se engane, não há inúteis neste barco. Não tolero preguiçosos. Então sugiro que ajude os imediatos no que for necessário e terá todo o tempo que desejar para escrever.

O dia seguiu-se sob ventos fortes e logo zarpamos, saindo do Tâmisa em direção ao Atlântico. Apesar do estranhamento dos tripulantes quanto ao hóspede inconveniente que lhe fazia perguntas durante o serviço, aos poucos as anotações iam tomando forma. Embora os doloridos calos e cortes ardentes surgissem em minhas mãos que acabavam por limpar redes e puxar cordas. De início era natural que fosse alvo de riso e anedotas um tanto maldosas, mas com o passar dos dias já estava mais familiarizado com a proa e as velas, o que ganhou um bom parágrafo e talvez servisse de prólogo.

Dentre os marinheiros, o único que tinha alguma paciência com este novato atrapalhado era o segundo imediato, Frank. Um garoto com pouco mais de 17 anos que almejava fazer nome e fortuna para pagar o dote duma moça em Londres. Em nossas conversas sempre mencionava sua Margareth como a coisa mais linda do mundo e o quanto desejava casar-se. Assim que chegassem ao porto com outra pesca farta, ele a teria nos braços. Joe era o primeiro imediato, altivo de semblante e forte. Ao contrário de Frank, este não falava muito, exceto para repassar as ordens do capitão com gritos pelo convés. Vez ou outra censurava-me com o olhar quando amarrava debilmente alguma corda ou não fazia algo que um marinheiro deveria saber. No máximo arrancava-lhe três ou quatro palavras, em geral sobre o ofício da navegação. O terceiro era Bill Simmons, marinheiro experiente, companheiro de longa data do capitão. Calvo e de barba grisalha, já beirava os cinquenta anos. Era um homem roliço e de pequena estatura, sempre que o via estava a comer e principalmente a beber, o próprio dizia amar mais o prazer do álcool que o das mulheres.

Dentre estes havia também o cozinheiro. Pierre era um francês de pele morena, o qual tratava pequena a cozinha como se fosse um templo. A arte de cozinhar era para ele mais importante que a própria pesca, mesmo um simples ensopado parecia ter mais sabor quando preparado por ele. Divertia-nos com suas histórias. Após o jantar, sentei-me no convés observando a lua cheia e as cintilantes constelações que ditavam a maré. Havia passado por cada parte do Netuno, exceto a cabine mais interior que era reservada ao capitão. Durante as noites ele passava a maior parte do tempo lá, o que não era questionado, afinal era seu tempo de descanso enquanto os homens se revezavam na vigia. No convés, Pierre começou a narrar uma de suas histórias:

― Eu era da idade do Frank quando isso aconteceu. Lá perto da costa em Paris... eu pesquei um peixe, mas não qualquer peixe messieurs, foi um feito magnifique.

― Deve ter pego uma lula gigante. ― Brincou Frank.

― Vai ver se agarrou com uma sereia! ― Pigarreou Bill, tendo a risada rouca interrompida por uma tosse.

― Non messieurs... ― Revelou o francês, aumentando-nos a curiosidade. ― Era uma noite tempestuosa e eu estava sóbrio. De repente, um peixe espada saltou das águas para me ferir! Peguei meu sabre e começamos a duelar num embate mortal! E ele saltava, rodopiava e saltava! Temi até mesmo ser morto por aquele tal peixe! ― Afirmou Pierre, gesticulando as espadas em combate, levando todos a rirem, e até mesmo Joe exibiu os dentes amarelos naquela ocasião. Tudo parecia correr tranquilamente na primeira semana, mas depois... as coisas começaram a mudar, coisas que mudariam minhas convicções sobre o real e a ficção. Era o meu turno na vigia noturna. Encarava com um hesitante candeeiro à óleo a imensidão escura do mar, ouvindo a melodia do vento e as ondas baterem no casco. Vezes ou outra tentava terminar o próximo parágrafo. Embora estivesse chegando perto de uma dúvida crucial... Qual a criatura do enredo? Que monstro iria aterrorizar valentes marinheiros durante a Guerra dos Cem Anos que apenas ansiavam voltar para suas famílias? Fechei o diário enquanto ponderava e voltei-me ao mar quando ouvi um barulho. Como se algo houvesse se chocado ao casco seguido de um grunhindo. Baixei o candeeiro, e ali abaixo nas águas negras, uma aparição. Pude jurar que vi uma mulher emergir e fitar-me, antes de desaparecer quando a próxima onda lhe chegou ao encontro.

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Comentários (3)
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Postado 14/10/21 22:58

Eu nem ia ler nada agora.

Vi a capa e o título, entrei para ver a sinopse. Ia salvar pra ler depois, mas resolvi dar uma espiadinha nas primeiras frases.

Quando me dei conta, estava em um pesqueiro em alto mar, no meio da roda dos marujos, me divertindo com a história do Pierre sobre o peixe espada.

O que aconteceu?

Postado 15/10/21 22:58

Fico até sem jeito depois de um comentário desses. Muito obrigado mesmo <3

Postado 15/10/21 13:19

Mistérios e uma escrita impecável, como não ansiar a leitura?

Teu estilo de escrita é maravilhoso! É como se estivéssemos ali, assistindo bem de perto a cada movimento narrado.

Parabéns e... Cuida em postar a continuação kkkkkk

Postado 15/10/21 22:57

Feito kkk

Muito obrigado <3

Postado 31/05/22 17:58

Uma escrita e história que atiçam as áreas criativas do meu cérebro.

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