Esse é meu coração, ele é feito de sabão. Ele escorrega, cuidado, ele pode irritar seu olho. Ele é colorido, cuidado, ele pode estragar sua tristeza. Ele é macio, cuidado, ele pode curar sua dor muscular. Ele é trancado, cuidado, ele pode te repelir como um mosquito. Ele é...
Meu coração é de sabão.
Meu coração escorrega da minha mão e vai parar na mesa e depois para no chão e na cadeira e no corredor e escorrega escorregando bonito e ensaboando o chão. Meu coração é assim: não para. É escorregadio, escorregadão, escorregadinho, escorregado.
Meu coração pula, enguiça, brinca, foge, corre, cria pernas, cria asas. Ele é fofinho, não?
Meu coração é frágil, cuidado, ele não pode te machucar.
Meu coração é mole, cuidado, ele pode fazer você querer cuidar dele.
Meu coração é feminino, cuidado, ele gosta de ser mulher.
Meu coração também é masculino, cuidado, não confunda as coisas.
Meu coração é meu, é seu, não é seu, por isso somente meu.
Se quiser que eu faça uma exceção, talvez você consiga se ressecar o sabão. Assim ele fica paradinho, bem na palma da sua mão. Ele ficará duro, forte, perfeito para você, não? Ele vai ser devoto a você, porque não poderá fugir; ficará temeroso, porque não poderá pular; ficará triste, porque não pode brincar; ficará com medo, surpreso, estranho, não será mais meu.
Se um dia eu tiver que partilhar meu coração... Que seja com outro coração de sabão.
Deixe ele escorregar pela toalha bordada em cima da mesa. Deixe ele escorregar e escoar e fugir e brincar e sorrir e voar da minha mão para outra mão que o deixa escorregar e escoar e fugir e brincar e sorrir e voar de volta para a minha mão.
Aí sim eu abro uma exceção.
Eu sou só uma garota com coração de sabão. Hic.