Tic, tac, tic, tac, tic... O ruído era perturbador e aumentava a sua vontade louca de mandar tudo explodir.
Mas no final o que queria era mandar a merda mesmo!
Sabe?
Não?
A tá, também não sei nada sobre isso.
Tic, tac é o que diz a bomba relógio (que era).
E no final gargalharia de maneira ensandecida. Não que aquilo fosse normal, mas já estava se tornando algo corriqueiro.
Toda a vez que tinha que abaixar os óculos na mesa e sorrir ironicamente era possível escutar o tic tac do seu peito avisando que o tempo estava acabando.
Em seguida era a dor sentida até em tentar respirar. O ar escapando pelas narinas podia queimar de tão tóxico e nocivo que estava o interior.
Basta!
Estava se condenando aos poucos a um fim prematuro.
Eram tantos porquês em sua fatigada cabeça, acumulados ao longo dos anos que nunca se atentou ao fato de que nunca parou para resolver suas dúvidas.
Seu inimigo estava dentro de si.
Sua personalidade explosiva não lhe deixava olhar o que era essencial. Antoine Exupéry estava certo... O essencial é invisível aos olhos.
Bah, quantas tolices.
Era uma tempestade barulhenta, sempre, a mansidão não combinava com seu rosto.
Abriu o sorriso e gargalhou com um timbre de voz profundo e eloquente, perturbador e rouco.
A sua falta de sanidade era capaz de arrastar outros ao mesmo desespero. Não queria aquela culpa em seus ombros, mas como os temporais, sabia que os danos eram irreversíveis e certos.
Não poderia mudar o seu ser, mas aprenderia a domar seus ventos e estragos.
Talvez não naquele exato momento, mas era necessário continuar respirando até inundar a sua psique com os sabores salutares.
Tic, tac, tic no tac, tic... o relógio parou e nada explodiu, respirou e prosseguiu.