Quantos anos até eu entender
O profundo do meu ser
O amor de meu amor
O abrigo de meu calor?
Como esperar o melhor, na melhor idade
Como crescer, viver com saciedade
Quando posso ver ao meu redor
O mundo a girar, parecendo tão só?
Como um simples objeto
Para muitos, um dejeto
Pode valer tanto na memória de quem guardou?
Anos e anos a fio, o coração conservou.
Como posso viver assim
Com tantos dentro de mim?
Como não expandir meu coração, viver e recriar
A esperança da infância
Na sabedoria da velhice?
Como desdobrar-me sem sonhar
Se todo dia nesse mundo me faço acordar
Pra encontrar o Amor infinito
Que tudo guia, tudo pode
Não me deixa abandonar em minha própria sorte?
Como soltar, nesse adulto ser
A alegre criança a viver
A sorrir, em meu coração
Segurando em minha mão?
Como ser adulto sem ser velho
Como ser velho sem ser carrancudo
Como ser criança com experiência
Como ser, enfim, maduro?
Nem mesmo meus livros me trazem a resposta
Que todo dia o dia me mostra
A vida sopra, aguenta
Aquece e alimenta
A esperança do crescer, do sonhar
O contato com o ar
E as mãos a trabalhar.
Meu caro adulto, se eu sou você
Se ainda não sou metade de ti
Guarda em mim a minha criança
Suave esperança
Guarda em mim o meu velho eu
Amor que não se perdeu
Sê mais que o que já foi
E espere mais do que virá
Porque a vida é o que é
Passagem para a frente
Sem marcha ré.