Eu mesmo descobri um segredo das estrelas, elas mesmas mo revelaram. Acontece que há alguns anos passados, perdi alguns parentes meus, amigos, vizinhos, conhecidos. Enfim, pessoas muito próximas de mim.
Começou quando um tio meu, um fidalgote que morreu de infartos, andava por ai se embriagando, se arriscando nos fumos, se soterrando em problemas que as vezes, custavam centavos da Avó Fátima. Eu Filimone, portanto, era numa noite, uma hora de ponta, que contemplava o céu repleto de minuciosas luzes, que me encantaram de uma vez ao perceber que tinham nome, Estrelas. Partia uma de um ponto para o outro, rasgando numa distância que só os céus sabem dizé-lo. Secretamente entretido fiquei.
Do nada, apareceu uma senhora, apressada, suspirando o rosto me disse.
― Corra, apressa-te. Venha ver um homem caído, não diz palavra nenhuma, apenas indicou-me nesta direcção.
Tomado de susto, segui-a por trás. Ao chegarmos no local, o homem caído, pelo manto de casaca que o encobria, era o tio Antûnes. Estava irreconhecível, sem rosto, estatelado ali, naquele frio de orvalho. Aonde quêr que se metera daquela vez, não lho pouparam, nem sequer a pobre vida dele. Após alguns dias, não cessaram lágrimas nos olhos da Avó, não aguentando da tragédia, caíu desfalecida. E foi tamanha tristeza que sobrou para o resto de nós.
Para me desfazer de melancolias, rumei para casa do cunhado Lorinho em Lioma, não só, também para parabenizá-los, dois gêmeos que tiveram abocado dava para compensar a perda. Estando lá, numa noite, senti-me tentado a sair fora e contemplar as estrelas, novas estrelas neste caso. Observei que uma e outra, perderam o brilho em simultâneo, um calafrio percorreu-me a espinha ao relembrar o dia da tragédia. Começara com uma estrela perdendo brilho, depois aquela senhora, e o tio morto.
Loucura minha, pensei.
Não passados dois minutos, meus ouvidos engravidaram de gritos, vindos de dentro, gritos que expressavam tamanha dór. Pulei de susto quando adentrei, vi a prima Êster rebolar no chão, enquanto cunhado Lorinho segurava nas mãos, os dois gêmeos que jaziam mortos. Pálido, não achei palavra nenhuma, à culpar as estrelas.
Me enervei com as estrelas, elas me decepcionaram, primeiro me fisgaram com suas aparências de inocência e agora, são as almas que elas me invadem sem o menor consentimento. Decidi dali por diante, não olhar para os céus, mesmo que fosse de dia, jamais me atreveria. Para isso, tive que andar arregalado, de cabeça abaixada, que foi por muitos anos. Lutei por muita coisa na vida, cheguei a possuir família, no mesmo estado arriado, e não me cansei.
Finalmente a velhice, ter que andar de bengala me apoiava bastante, impossibilitava-me, era a olhar para cima.
Mas uma coisa sempre me deteve. E bem eu conscia de suas vãs incinuações.
Uma delas, tão persistente e ousada, brilhava mais que as outras. Seus feixes chegaram até a invadir a sonolência dos meus aposentos. Por mais que impressionesse, não tentei a olhá-la.
— Vovô, as estrelas são tão bonitas. Me ajuda a escolher uma pra mim?
Aquele desêjo de meu neto, atiçou-me em gargalhadas haviam anos não rebentava, de tristeza ou alegria, sai para a noite, ao lado de meu neto Jorginho, que não parava de apontar para os céus.
— Quero aquela ali... Não. É grande demais... Aquela Vô..!
Olhei para ele, e revirei para os céus, para a minha estrela. E ordenei-a, agora mesmo, apague-se.