Algumas histórias começam por: era uma vez, e muitos esperam que o final seja algo feliz e duradouro. Mas esta história não tem pontos totalmente felizes ou quiça duradouros, afinal existem poucas certezas na vida e a felicidade não é uma delas.
E é assim, com poucas certezas de um futuro que o rei, daquele país tão (tão) distante anuncia o nascimento de seus filhos, no mesmo dia, ao mesmo tempo, filhos de suas preciosas concubinas. Fazia frio e nevava, alguns dizem que nascer em noite de lua cheia é atrair um destino trágico, mas quem ousaria dizer isso para um pai que tinha em seus braços os primogênitos tão desejados para suceder a sua coroa?
Ninguém diria isso, mas a rainha sabia. Por isso pediu para ter sob sua tutela a guarda e educação das duas crianças, que os sucessores fossem criados sem favoritismo e por alguém da realeza, capaz de ensinar tudo o que precisassem para serem bem sucedidos. Mas conforme eles cresciam as diferenças se acentuaram, eles tinham personalidades totalmente opostas, eram como Yin e Yang e a rivalidade sempre fora constante e até incitada entre os irmãos.
Na juventude essas diferenças não importavam, mas quando o rei foi ficando mais velho e doente o povo passou a clamar pelo nome do sucessor, e é aqui que a nossa história propriamente acontece. Ambos eram fortes candidatos, eram bem queridos pelo povo e conselheiros, como ser justo na escolha de um nome?
Um tinha a personalidade mais contida e uma timidez que por vezes o fazia ficar à sombra do irmão, enquanto o outro era ousado e altivo. Mas se lembrem caro leitor, ambos tiveram a mesma educação, mesmos professores, mesmos ensinamentos, mesma mãe de criação, como poderiam ser opostos?
Mas eram.
O príncipe Yin, o nosso ousado e altivo pretendente era ambicioso e após certa idade passou a fazer e a jogar o jogo da sucessão pelos corredores do palácio. A ambição uma vez instalada no coração é como uma erva daninha que entrelaça as suas raízes no ser e conforme se deixa o tempo passar ela se instala sem possibilidade de ser arrancada mais, e sem volta era o momento que ele se encontrava.
Tal sentimento era tão potente em seu ser que não se importou em levantar a espada ao seu irmão Yang, o doce e medroso, mas não menos competente espadachim.
Yang buscava não se sobressair, afinal conhecia o coração e a ambição do seu adorado Yin, e temia aquele caminho obscuro, sabia que não poderia morrer por aquela espada, o reino e seu irmão dependiam de si, e mesmo com medo ele iria lutar pela sobrevivência de todos.
A neve cobria tudo novamente, como naquela noite de lua cheia que iniciaram a vida e seria numa noite fria de lua cheia que iriam trilhar o destino ao qual estavam destinados. As espadas reluziam e vibravam quando se encontravam, seus oponentes dançavam a melodia da morte, ambos tremiam, um pelo medo do futuro, o outro pela raiva que o consumia, e nenhum deles estava disposto a desistir apesar da incerteza do desfecho daquele confronto.
Banhados pela lua rodopiavam no ar, se encontravam e se repeliam com a mesma intensidade e força, nenhum dos lados iria desistir do objetivo, até que … o inevitável aconteceu e o vermelho manchou a neve branca.
— E fim da história, hora de dormir mocinho.
— Isso não é um final decente, o que aconteceu com os irmãos?
— Lógico que é um final bem decente, de onde você tirou isso, Luca, tu só tem sete anos!
— Você falou isso no filme do Aladdin.
— Eu me rendo, entendi o que você quer dizer.
— Então, qual dos irmãos ganhou a luta? Foi o malvado Yin ou o bondoso Yang? Vai mãe, me conta, conta, conta.
— Ahh tá bom, tá bom… eu conto melhor.
— Eba!!!!!
— Na verdade eu não contei que o Yin era malvado e nem que o Yang era bondoso.
— Não???
— Não, e nessa luta não tem vencedor ou perdedor, é uma luta constante com quem nós somos com quem nós desejamos ser. Uma luta conosco mesmo entre os nossos mais obscuros desejos e nossa consciência do que é certo.
— Ahh? Ainda não entendi, quem ganha?
— Aquele lado que você fortalecer mais, lembre de sempre lutar pelo que é certo meu filho, tudo bem.
— Tudo bem mamãe, mas essa história não é boa, amanhã eu escolho o que você vai contar, está bem?
— Combinado campeão, durma com os anjos.
Talvez a história pode ter um novo recomeço ou um final melhor, não é mesmo?
Depende do lado que você escolher.