Michael estava ali, paralisado, observando Hellyoner enquanto a mesma destruía os móveis da sala, o xingando de todos os nomes possíveis e lhe dizendo coisas que nem mesmo a pior de todas as pessoas merecia ouvir. A garota estava alcoolizada e chorava, dizendo que Mike a machucava mas, quem realmente feria alguém era ela. Ele fechou os olhos e respirou fundo, se segurando para não chorar.
Em que errou para merecer isso?
A única coisa de errado que fez foi amar incondicionalmente alguém que não tinha alma e fingia ter.
Após tacar um vazo na direção do colorido falou que iria fugir para bem longe dele, mas, o único que deveria e não conseguia fugir de Hell era ele.
Ele se sentia um figurante nessa trágica história, aquele que não era capaz de fazer nada além de observar e sentir o impacto de cada cena que ela fazia, sendo destruído enquanto só servia de fundo para tudo.
Tem alguém aí, afinal? – Pensou no momento em que ela se posicionou a sua frente e o encarou nos olhos. Mike procurou aquele brilho que antes via neles mas, viu o que ele desejava nunca ter visto: não havia mais nada ali. Era apenas um castanho vazio, tão vazio quanto a garota que o levava no rosto. Uma dor ainda maior o preencheu. Era como um ácido o corroendo por dentro.
A garota berrou, o chamando de inútil e em seguida, lhe deu um tapa estalado no rosto e então o empurrou, fazendo-o cair encima da mesa de centro, partindo o móvel em dois.
Suas costas doíam.
Seu olhar marejado estava sobre o dela, tão imóvel quanto seu corpo.
Ele se sentia perdido, desolado.
Realmente estava.
Perdido pois nunca seria capaz de deixá-la e desolado por saber que aquele sofrimento que agora esmagava seu peito seria seu fiel companheiro por uma grande parte da sua vida.
Michael se perguntava se a garota que conheceu havia morrido, ou, se na realidade nunca havia existido.
Antes era tão calma quanto um cordeiro e agora estava tão agressiva quanto uma fera, o atacando e o ferindo aos poucos.
Um sorriso debochado surgiu no rosto dela antes de dizer que estava tudo acabado e em seguida, sair pela porta.
Ambos sabiam que Hell logo voltaria pelo mesmo lugar e tinham plena certeza de que Clifford seria trouxa o suficiente para aceitá-la de volta. Era um ciclo vicioso.
Em algum quarto de uma boate qualquer em Sidney, Hell transava selvagemente com um cara que sequer sabia o nome enquanto, em casa, Michael chorava como um filhote solitário deitado em sua cama.
A garota que criou um lobo dentro de si e o rapaz que se tornou sua presa, sendo lentamente devorado por ela.