Você é como areia escorregando pelos meus dedos e, Deus, como eu queria estar exagerando.
Não importa quantas vezes eu te pegue e tente te modelar; você é fina, instável e áspera ao toque. Distante. Só uma memória rala do que um dia foi pedra, conchas, ossos e oceano.
E mesmo que eu te colocasse numa ampulheta, só serviria ‘pra ter uma noção visual do quão rápido você some da minha vida, não é?
É. Você já se foi, de qualquer maneira. O mar veio e levou aos poucos, misturando e dispersando. O você que eu vejo hoje não é nem metade do que eu já vi um dia, e nem essa não-metade me quer por perto.
Pra ser sincero, também não te quero. É um esforço inútil e eu me encontro cansado do esforço, sabendo que mereço melhor do que isso; e não deveríamos ser assim, mas podemos ser algo além disso? Não. Só queria que você fosse embora de uma vez.
Queria, se possível, poder sair dessa praia sem que a areia machucasse minhas pernas.