Utopia
Sorelly
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 03/04/16 19:09
Editado: 11/10/20 18:04
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 12min a 16min
Apreciadores: 9
Comentários: 4
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Palavras: 2021
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

"Todo homem traz dentro de si o menino que foi."(LACOMBE, Amélia. Sobre o livro "O Pequeno Príncipe")

Hello, sweetbunnies, como estão? Então, sobre o texto: ele é totalmente fantasioso, e digamos, uma crítica ao mundo adulto e suas ideologias. Sem mais spoiler (insignificativos), apenas um pedido: Nunca se esqueçam da criança que existe dentro de vocês.

Capítulo Único Utopia

— Vamos, Charlotte, eu sei que você consegue correr mais do que isso!

— Você vai acabar caindo e se machucando, Brian. Olhe para frente!

O garoto apenas se limitou a rir, continuando a correr de costas enquanto encarava a sua amiga que resfolegava e tentava acompanhar o seu ritmo. Sabia que a garota jamais o alcançaria, então resolveu diminuir os passos e se sentar sob uma árvore, observando-a se aproximar aos poucos e cair deitada de forma delicada sobre a grama, respirando de maneira descompassada.

— Se eu soubesse que não aguentaria correr até Utopia teria chamado Kappa para te levar no colo, ou teria te amarrado na cama, amordaçando-a para não vir atrás de mim e nem gritar quando saísse do seu campo de visão.

— Brian! — a garota se sentou e o olhou, abismada, distribuindo em seguida leves socos em seu braço direito e voltando a olhar o céu que se encontrava límpido e azul. — Será que nunca chove em Utopia?

— Elrond me disse que a chuva é um pedido de socorro da natureza para os homens, ou um modo de dizer que está triste por alguma situação, portanto, não há necessidade de chover em Utopia. Por falar nisso, ainda consegue andar? Vamos nos atrasar para o baile da primavera!

— Tudo bem, tudo bem. Vamos andando antes que você acabe me largando em algum lugar. Se tivermos sorte, talvez encontremos com Abacur. Ele costuma cavalgar por esse caminho quando não está fazendo companhia à Sunna.

— Venha, eu te ajudo Lottie. — Brian sorriu, levantando-se e estendendo sua mão para Charlotte. Ao encará-la, não pode deixar de novamente a admirar. Seu rosto denotava um brilho suave causado pelos raios solares, enquanto o sorriso perfeito predominava em seu rosto. Ela parece um anjo, pensou o rapaz, o meu anjo. A pele branca combinava perfeitamente com as bochechas levemente coradas da garota, e quando ela ergueu seu olhar, Brian não conseguiu esconder o sorriso de admiração. Charlotte me atrai por completo; ela é perfeita, tanto física quanto psicologicamente. Perfeita para mim.

— O que você tanto olha? — a garota perguntou, segurando a mão que lhe era estendida.

— Oi? Nada, vamos.

Assim que ambos ficaram de pé prosseguiram de mãos dadas, cada um preso em seus próprios devaneios. O sol, que antes brilhava constantemente, foi oculto por algo misterioso. Quando as duas crianças olharam para o céu se depararam com Lessa, a grande baleia flutuante, guardiã da floresta, que estava acompanhada por uma baleia menor.

— Será que a baleia menor é a filha de Lessa? — indagou Charlotte, olhando encantada enquanto os dois animais acenavam com a cabeça e prosseguiam seu caminho.

— Não me surpreenderia se fosse. Já faz mais de um ano que não visitamos Utopia.

Assim que o garoto terminou de falar, algo passou rapidamente perto de seu rosto fazendo-o perder o equilíbrio e cair sentado. Incrédulo, Brian olhou para Charlotte pensando que a culpa de sua queda fosse da garota, que tentou se vingar por mais cedo. No entanto, toda sua incredulidade se transformou em surpresa e admiração.

Charlotte rodopiava lentamente enquanto três pequenas fadas bailavam no ar, cercando-a. Em uma dança sem melodia a garota sorria, enquanto sentia uma sensação de paz tomar conta de seu mente. Todavia, na mesma velocidade que os pequenos seres místicos apareceram, foram embora na mesma direção que Lessa havia partido, acenando brevemente para que as seguissem.

Sem hesitar, Brian se levantou segurando novamente a mão de Charlotte e se dirigiu para a estrada que estava a sua frente. Enquanto caminhavam lentamente, conseguiram avistar vários habitantes da floresta seguindo o mesmo caminho: a família de anões continuava a mesma, porém mais briguentos que o de costume, de forma que não havia como não rir quando Ícaro, o irmão mais novo, empurrava Isis, fazendo-a cair e derrubar o restante da família.

Tompkins, a família mais poderosa dentre os elfos andava elegantemente com seus três membros representantes, sendo seguida por Hamadríade, a ninfa dos bosques, que pulava graciosamente entre os galhos das grandes árvores, tomando cuidado para não esbarrar e derrubar acidentalmente Acalântis e Líbia, que também preferiram usar as árvores para chegar até seu destino.

Impressionados com as criaturas mágicas que há tempos não reviam, Brian e Charlotte não repararam que haviam chegado até o campo onde seria realizado o baile de primavera, só se dando conta desse fato quando se depararam com um grande arco cercado por rosas vermelhas e brancas, onde na parte central se encontrava uma placa com palavras brilhantes: “Bem vindos ao Baile de Primavera”.

Ao passarem pelo arco, observaram com satisfação todas as criaturas mágicas de Utopia dançando no embalo de uma melodia suave.

— O que aconteceu, Lottie? — perguntou o garoto, sentindo que sua amiga havia ficado tensa.

— Não viemos com trajes adequados. — respondeu, observando que todos, sem exceção, estavam vestidos com trajes a rigor.

— Talvez eu possa ajudá-los.

— Elrond! — ambos exclamaram juntos, felizes por verem seu melhor amigo.

— Cyndi, você pode ajudá-los com seus trajes? — o elfo mais velho perguntou sem desviar o olhar das duas crianças a sua frente. E depois de alguns segundos, uma fada cintilante apareceu, segurando primeiramente a mão de Charlotte e a rodando levemente, enquanto seu corpo era cercado por uma nuvem de brilho, transformando a roupa da garota em um longo vestido cor-de-rosa. Em seguida realizou o mesmo com o garoto, fazendo com que sua roupa se transformasse em um belíssimo conjunto de smoking, gravata e calça social, todos de cores escuras.

— Obrigada, Cyndi! Obrigada, Elrond, por ajudar. — Charlotte agradeceu depois de admirar seu vestido, recebendo um breve aceno de Elrond que se distanciou para cumprimentar os anões que chegaram.

— Venha, Lottie, vamos dançar.

Brian estendeu sua mão, guiando a menor para o centro do campo e conduzindo lentamente a dança. Apesar do silêncio que havia predominado, ambos sorriam e tinham apenas um pensamento em mente: Utopia era o paraíso para qualquer ser humano.

Quando a música chegou ao fim, as duas crianças resolveram conversar com Elrond, que estava parado ao lado de Cafira e Néria. O ambiente continuava agradável e feliz; todos estavam dançando harmoniosamente ou sentados em suas respectivas mesas, bebendo. Era como um sonho, um sonho que fora quebrado por uma voz grossa e familiar.

— CHARLOTTE, O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?

Tanto Charlotte quanto Brian olharam abismados para o homem que caminhava em direção a eles, e a julgar pela expressão vazia e pelo rosto vermelho, aquele que havia acabado com o clima de festança não estava nada feliz.

— Pai, eu posso explicar...

— Explicar o quê? — o homem gritou, agarrando a garota pelo braço. — Eu já não a proibi de vir a esse lugar imundo, ainda mais com esse... Esse infeliz?!

— Utopia não é um lugar imundo, pai, e o Brian é meu melhor amigo!

— NÃO É IMUNDO? Vai continuar com essa história de floresta encantada, unicórnios e seres místicos? Isso não existe, minha filha, e nunca vai existir!

— UTOPIA EXISTE, PAI, E ESTÁ BEM DIANTE DE SEUS OLHOS! — Charlotte berrou, puxando seu braço de volta e apontando para todos os lados. — Olhe a sua volta. Será que você não consegue vê-los? Todos estão assustados, pai. Você os assustou!

— Sua mãe tem razão, você só pode estar louca. Venha, vamos para casa.

— Não irei, vou ficar aqui com os meus amigos.

— EU DISSE PARA VIR COMIGO! — o mais velho gritou, segurando novamente Charlotte pelo braço e a arrastando.

— PARE, ESTÁ MACHUCANDO ELA! — Brian tentou intervir, recebendo um tapa em sua cara e caindo aos pés de Elrond, que apenas observava a cena, inerte.

— FIQUE LONGE DELA, GAROTO, ISSO É TUDO CULPA SUA! Você nunca mais verá Charlotte na sua vida, nunca mais. Eu a mandarei para um sanatório e você jamais terá notícias dela!

Brian tentou novamente se levantar e ajudar sua amiga, mas foi impedido por Elrond. Desesperado e sem saber o que fazer, o garoto apenas viu pela última vez o rosto de Lottie, vermelho e molhado pelas lágrimas, tão diferente da garota sorridente de minutos atrás, deixando Utopia com seu pai... Para sempre.

— Por que você não o impediu? Por que não fez nada? Pensei que fosse nosso amigo! — Brian acusou, enquanto caía de joelhos sobre a grama, tentando controlar o choro e recuperar o fôlego.

— Não há nada que possamos fazer, meu caro amigo.

O garoto apenas continuou a chorar sem parar, indeciso entre correr atrás de Charlotte e trazê-la de volta, ou bater em Elrond. Como não havia nada a fazer?, foi a única coisa que conseguiu pensar.

— Os adultos não podem nos ver, meu amigo Brian. — Néria explicou, depois de alguns minutos de silêncio, enquanto se ajoelhava ao lado do menor, lhe dando conforto. — Aqueles que não acreditam na magia não conseguem ver nenhum de nós, criaturas mágicas, tampouco Utopia.

— P-por quê?

— Por causa da ganância. — respondeu Elrond. — O mundo adulto foi corrompido pela ganância e pela busca ao poder. As crianças são seres puros, dotadas de uma inocência infinita, e justamente por isso tem a mente mais aberta para os princípios da existência do universo. Todos já conseguiram nos ver um dia, conversar conosco, no entanto, quando chega a famosa fase adolescente, as questões entre o certo e o errado são levantadas, e a falsa visão de um mundo superior se faz presente. Ao deparar com o dilema que a fantasia é coisa de criança, inconscientemente as pessoas vão se afastando de nós. A inocência, que antes era sinônimo de uma mente aberta, se fechou para um universo onde poder e dinheiro é a única salvação. Desacreditando em nós, passamos a não mais existir.

— Quer dizer que quando eu for um adulto vocês não vão mais existir? — Brian indagou, já mais calmo, enquanto observava todos os seus amigos místicos olhando-o e sorrindo de maneira afetiva.

— Isso dependerá de você, pequena criança. Não deixe que o mundo o influencie. Viva de acordo com as regras impostas, mas jamais se esqueça da criança que você é. Jamais esqueça que dentro de nós, independente da idade, há uma criança que precisa ser despertada. Agora você precisa ir, meu caro amigo, está na hora de você enfrentar os seus problemas.

Brian apenas balançou a cabeça negativamente, em desespero.

— Eu não quero sair de Utopia, não quero deixar vocês!

— Enquanto você acreditar que nós existimos, Utopia sempre estará aqui para você. Mesmo que se passem anos, continuaremos te esperando.

— Vocês prometem?

— Prometemos. — disseram todos os habitantes de Utopia ao mesmo tempo. Sorrindo, Brian apenas ergueu a cabeça e se despediu de todos, um por um, logo em seguida deixando a floresta que ficara em silêncio por um longo tempo.

Vinte anos depois...

— Papai, aonde nós vamos? — uma garotinha perguntou impaciente.

— Você logo verá, minha filha. Venha, estamos quase chegando.

Pai e filha caminhavam cuidadosamente pela floresta escura e esquecida há muito tempo, mas um sorriso predominante no rosto do rapaz denunciava que ele já conhecia o caminho.

— Chegamos, minha querida.

— O que é isso, papai? — a garota perguntou enquanto olhava curiosamente um arco velho a sua frente, que parecia ser a entrada de um novo bosque.

— Lembra das histórias que contei a você, filha? Quero que feche os olhos e imagine em sua mente.

A menina nada disse, apenas seguiu as instruções do seu pai, imaginando que aquela floresta escura e velha fosse encantada.

— Eu sabia que você voltaria, meu caro amigo Brian. — ela ouviu uma voz estranha falando com seu pai e, ao abrir os olhos, se deparou com uma paisagem totalmente diferente.

A floresta antes escura se transformou magicamente. O antigo arco velho deu lugar a um arco de ouro, cercado por rosas de diversas cores, e logo atrás do objeto se encontrava um campo florido, cheio de pessoas que olhavam os dois visitantes de maneira amistosa.

— É bom voltar, meu amigo Elrond. Fico feliz que tenha cumprido a sua promessa. Quero que conheça a minha filha, Ana.

— Seja bem vinda à Utopia, Ana. — o elfo disse, cumprimentando a garota enquanto esta ainda olhava admirada à sua volta. Fadas voavam sobre ela enquanto cantavam suavemente, anões e elfos estavam na entrada para ajudá-la e conhecê-la, e duas grandes baleias flutuantes dançavam ao ar, dando boas vindas à nova habitante da floresta mágica.

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Apreciadores (9)
Comentários (4)
Postado 03/04/16 20:43

Gente, cê é fora desse mundo! <3

Certeza que não peguei todas referências, mas Senhor dos Anéis e ou Ponte para Terabítia ou Nárnia, certeza. xD

Postado 03/04/16 22:21

Eu sou um ser brisante <33

Awwwn, essas pessoas que pegam as refências! <3

Postado 04/04/16 00:03

Poxa, ele não reencontra a Lottie, fiquei na esperança dela ser a mãe de Ana. Gostei muito, muito bom.

Postado 04/04/16 00:15

Lottie sumiu ;u;

Muito obrigada, fico feliz que tenha gostado! <3

Postado 04/04/16 14:26 Editado 14/09/16 21:55

Viajando legal, hein? #corre

Esse texto ta magnífico!

Postado 10/04/16 12:08

SAHIDHIUASHD Obrigada, Gema! <3

Postado 10/04/16 22:20

Este conto tem algumas referências ao filme Ponte para Terabítia, você teve alguma inspiração através deste filme? De qualquer modo ficou magnífico, parabéns.

Postado 10/04/16 22:26

Yeah, na verdade, ele foi uma junção dos mundos de Ponte para Terabítia, Senhor dos Anéis e a Mitologia Grega e Nórdica em geral ><

Muito obrigada! <3

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