Eu estava no chão sujo do cemitério, não era grama verde e bela, apenas um chão ladrilhado e desbotado, as lápides me encaravam e os nomes dos mortos pareciam sempre mudar de lugar.
ouvia vozes estranhas, risadas e gritos, céu e inferno brincavam entre si em minha mente confusa, senti sua mão congelante em meu pescoço, só enxergava suas roupas vitorianas já em fiapos, e seus olhos vermelhos.
_ Você quer viver? _ ele sussurrou em meu ouvido com sua voz grave _ quer?
_ Não sei, tenho medo de viver _ disse em um fio de voz.
_ Então quer morrer?
_ Não, tenho medo do julgamento divino.
Ele me olhou e mesmo com a vista borrada, enxerguei seu sorriso, senti sua lingua gélida nos dois pequenos buracos que ele fez anteriormente em meu pescoço com seus dentes afiados, doía, mas era estranhamente agradável.
_ Te darei então, a morte e a vida, o eterno e o vazio, a doce loucura do coração mudo e da alma infernizada pela eternidade.
Uma pausa se fez, senti então entrar garganta a baixo um gosto amargo e gelado, horrivel e saboroso, será esse o gosto que se prova quando se morre?
O tempo se passou, senti meu corpo todo queimar em agonia, porém não me mechi, apenas deixei continuar, doía e era agoniante, parecia que o diabo fazia sexo com minha alma enquanto a mesma estava amarrada em grilhões de ferro ardente.
De repente, morri.
Foi apaziguador.
Abri os olhos e não compreendi.
_ Por que estou viva? _ me ergui do chão naturalmente, como se nunca tivesse partido.
_ Não está _ ele estendeu a mão _ apenas te fiz um favor.
Segurei sua mão palida, ainda sem olhar-lo na face, como se ele fosse sagrado.
ele então entoou em minha mente:
"não tenha medo da morte, sua vida apenas começou através dela, agora vive, e agora morre, não há mais medo, apenas o vazio."