Aqui nasci
Aqui morri
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Aqui amizades consegui
Mas aqui também amizades perdi
Aqui
Sempre aqui
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Aqui um dia entrei
Daqui um dia saí
Em um certo momento retornei
E agora sempre permanecerei
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Pois aqui é o lugar onde mais floresci
Na mesma medida em que mais apodreci
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Aqui é o templo em que por tudo agradeci
Principalmente pelo fato da querida AC existir
A menina interrompe abruptamente o movimento de seus dedos, que digitavam freneticamente. Ela suspira longa e pausadamente enquanto seus olhos melancólicos pousam na tela do computador.
Ela sente todo o peso dos anos. O peso das inúmeras saudades... dos inúmeros arrependimentos... O peso da enorme tristeza... do enorme pesar que levava em seu âmago. O tempo não para, pois ele é cruel. E assim ele vai levando consigo tantas memórias, tantas lembranças...
Seu nome era Meiling. Sua vida era triste. Sua existência era um erro da natureza. Sempre se sentiu solitária, excluída e rejeitada. Dedicou todo o seu tempo aos estudos. Ler e escrever eram as suas paixões.
A menina censurou-se mentalmente. Queria conseguir calar essa voz interior que nunca ficava quieta. Sua mente estava sempre a tagarelar consigo mesma, mas agora ela precisava se concentrar, afinal, era o aniversário de sua querida Academia de Contos e ela queria muito escrever algo significativo para participar do concurso de aniversário.
Cinco anos. Parece tão pouco e tão muito ao mesmo tempo. A menina usou toda sua alma para colocar no papel aquele poema que gritava ao sair de seus dedos. Mas no fim, só sentiu-se insatisfeita, como na maioria das vezes em que escrevia algo a respeito da própria Academia. Ou quando escrevia qualquer coisa que fosse.
Essa menina sempre foi muito insegura, em todos os aspectos possíveis. Quando começou a escrever, achava seus textos uma diarreia pura, mas por sorte, a única grande sorte de sua vida, ela resolveu postar alguns deles na internet... E foi assim, aleatoriamente após ver um texto da Meiling, que a Carioca-Mais-Linda-do-Mundo a convidou para fazer parte da Academia. E a partir desse dia, toda a sua vida mudou.
Meiling encontrou um lugar tão lindo, feito com tanto carinho pelo Chefinho. Um lugar tão acolhedor, no qual a solitária menina finalmente conseguiu fazer amigos, finalmente conseguiu se sentir aceita e querida. Aqui ela encontrou pessoas que sinceramente gostavam do que ela escrevia.
Foi na Academia que Meiling conheceu seus autores preferidos da vida inteira. Foi na Academia que Meiling conheceu seus amigos. Foram altos e baixos, idas e vindas ao longo do tempo, mas recentemente houve o momento mais bonito, em um certo Sindicato... Uma Moça-das-Facas, uma Pãozinha-Linda, uma Ternura-Ternurada, uma Jovem-Cadáver, uma Cantora-Profissional, uma Seis-Fofinha e um Diab-do-Hell...
Mas deve ser como dizem por aí, que tudo que é bom dura pouco...
A menina censurou-se novamente por suas divagações, agora dando tapas nas próprias pernas e xingando em voz alta. Não podia se desconcentrar tanto assim... Ela precisava escrever... Mas tudo aquilo estava preso dentro de si, querendo sair... Afinal, essas pessoas são para ela muito mais que apenas amigos... Eles foram sua família... Sua Família Infernal...
Em algum lugar, perdida no Inferno, existe uma mansão... Seus habitantes deveriam ser imortais, mas provavelmente agora eles estão mortos... Será que em algum lugar ainda existe uma deusa? Ainda existem trigêmeas do apocalipse? Ainda existe um casal que se ama e que vive com as suas queridas sobrinhas?
Meiling tenta acreditar que em algum lugar uma moça pronta para matar está abraçando um hunter... Em algum lugar uma mocinha está chorando e espirrando... Em algum lugar uma menina docemente abraça um príncipe do inferno... Em algum lugar uma imperatriz do massacre abraça um vampiro... Em algum lugar uma sacerdotisa das trevas abraça um imperador do extermínio... Em algum lugar... Em algum lugar... Em algum lugar que talvez não exista mais...
Meiling se levanta gritando consigo mesma. Minuto a minuto ela se desespera de tristeza, pois sabe que tudo mudou. Ela chora, ela grita, ela olha para fotografias de seus amados amigos, ela lê mensagens antigas...
Ela toma uma decisão. Mas ela desiste logo em seguida. Pois é uma covarde.
Ela então usa toda a sua covardia para esfriar a cabeça tomando um banho e depois comendo algo fingindo ser um jantar. Ela então tem uma grande ideia covarde: esquecer tudo que estava tentando escrever, e apenas escrever um poema sobre ela própria e seu caminho até a Academia.
Meiling passava seus dias imersa em poesias.
Adorava ler e, principalmente,
Adorava passar as tardes a escrever.
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Tudo começou com seu amor por Pokémon,
Quando pensava em histórias comendo bombom,
Depois escrevia as fanfics, tomando um sorvete congelante.
A vontade de algum dia ser escritora era sempre constante!
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Para as maiores e incríveis inspirações
Buscava coisas de terror e se perdia em divagações.
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Assim foi, por aí, por muitos anos,
Até que começou a escrever textos cada vez mais profanos,
Principalmente depois de vir para a Academia de Contos,
Este recanto mágico, Antro Maldito de queridos juntadores de pontos!
Quando terminou o poema, a menina novamente sentiu-se insatisfeita. Choveu de críticas a si mesma, ao seu modo infantil de fazer rimas, ao seu pouco desenvolvido estilo... Sentiu vontade de ter escrito o poema em um papel, para poder amassá-lo com toda força e rasgá-lo em mil pedacinhos.
Acho que quanto mais cresce a minha covardia, mais cresce a minha incompetência como escritora...
É... talvez o melhor mesmo seja eu apenas não participar do concurso...
Afinal... o que de bom eu teria a oferecer?