Ela não podia afirmar com certeza quando as pétalas deram o ar da graça pela primeira vez, porém era certamente curiosa a sequência de acontecimentos que as antecederam. Primeiramente uma falta de ar, depois uma dor inquietante queimando suas entranhas e, para fechar com chave de ouro, uma coceira na garganta abriu caminho para os pequenos botões vermelhos e perfumados forçarem sua liberdade.
Deus, o que ela não daria para culpar um amor não correspondido. A doença de Hanahaki, por mais shakespeariana que parece, aparentava ser um jeito poético e nobre de morrer. Mas não, ela não estava morrendo em decorrência de um coração partido. Ela estava morrendo covardemente pelas palavras não ditas, palavras que sempre obrigaram-na engolir, palavras que não tardaram a florescer, destroçando-a de dentro para fora.
As raízes rasgaram seu estômago, as pétalas sufocaram seus pulmões. O estrago chegou ao exterior, provocando rachaduras em sua epiderme alabastrina.
Sorrindo para o espelho ela se perguntou por quanto tempo aquilo ainda duraria, quanto tempo até que ela se transformasse num jardim completo.
Um jardim de camélia vermelhas, suas flores favorita.