Os objetivos do herói são simples o suficiente para serem compreendidos por qualquer um: derrotar o dragão, salvar a donzela, pegar o ouro, viver feliz para sempre. Este é o fim da jornada do herói, presente em estórias e sonhos, mas falemos aqui de estórias, por um momento. Todo herói de estória que faça sucesso têm de voltar, mesmo que apenas para garantir a subsistência financeira – ou para agradar a ganância – do seu criador, o autor. Assim sendo, Harry Potter não poderia ser um livro só, e nem Vingadores poderia ser um filme só. O herói vence o dragão, salva a donzela, e evolui no processo – fica mais forte, mais inteligente, mais preparado para o futuro. Para que nem o herói e nem a audiência/os leitores morram de tédio, o vilão também precisa evoluir. Na primeira jornada do herói, o vilão é doméstico (Homem de Ferro 1): ameaça a vida de algumas pessoas, ou de algum lugar. Conforme o ciclo se repete, o vilão vai crescendo em escopo: torna-se global, ameaçando o mundo todo (Vingadores), e por fim universal, ameaçando todo o universo (Guerra Infinita e Ultimato). Devemos aqui nos perguntar, em nome da curiosidade: o que ameaça mais que o universo? A partir daí, as coisas tornam-se mais abstratas.
Na física, o macroscópico e o microscópico desobedecem algumas das leis da física. O avanço da ciência fez com que ela chegasse a tal ponto em que é necessário uma quantidade absurda de abstração para que ela seja compreendida. Normalmente, vemos isto no aprendizado de matemática: assim que é necessário pensar abstratamente na matemática pela primeira vez (na álgebra), existem certos alunos que se tornam completamente incapazes de progredir: “eu era bom em matemática até essas letras desgraçadas aparecerem.” Para compreendermos um vilão cujo escopo é maior do que o universo, é necessário, também, abstrairmos.
“eu entendia a arte muito bem até esses surrealistas desgraçados aparecerem.”
Encontramos, então, uma profunda ligação entre o avanço da ciência depois da segunda guerra mundial e o aumento do consumo de psicodélicos nos anos 60 e 70. Ao menos parte da popularização do uso e abuso do LSD se deve a sua capacidade de ajudar os indivíduos a abstraírem e, portanto, entender melhor que porra está acontecendo.
Como as drogas nunca foram acessíveis, especialmente as psicodélicas, logo encontraram-se alternativas, uma delas sendo os sonhos lúcidos.