Não consigo me imaginar existir em um planeta no qual este canto de mundo cibernético não exista.
É um tipo de poder secreto, poder este que me fez ressuscitar, bater a poeira e encontrar, entre bilhares de outros - um bom lugar aonde eu pudesse repousar minha cabeça, gritar com a maior das certezas, chorar com o mais sincero dos prantos, sorrir com a mais rasgada gargalhada e gozar com o mais denso prazer.
Quantas vezes desaguei meus medos e um punhadinho de pessoas a quilômetros de distância, de alguma forma puderam me dizer "Você não está sozinha!" - hein, diga para mim, cabecinha?
Vai bem além de escrever, de ler, de explorar, adentrar universos enigmáticos e conhecer mentes curiosas... A dimensão deste amor, do amor que sinto por esta nossa casa, por estes nossos móveis, nossa extensa biblioteca empoeirada e tantos contos novos que pousam à porta, não pode ser descrita em palavras, em contos, em estrofes, em poesia.
Não pode ser descrita nesta vida, quantas vezes em fúria, quis arrancar minha face fora, quebrar meu pescoço em mil pedaços, desmembrar meu corpo e jogar-me fora, malditos dias e noites solitários - mas nestes momentos, ao invés de dar-me por vencida, e sucumbir à quase-vida de uma humana falante, eu arrastava - e arrasto - minha carcaça dolorida até esta página cheia de vida, ergo pesarosamente meus dois braços molengóides, estalo os dedos finos e pequeninos e ponho-me a compor novas realidades - ou, a escancarar as que de fato existem, posso então respirar sem pesar, posso então encontrar motivos para continuar, isto que eu e nós temos, este grandioso lugar aconchegante e bem frequentado, como uma cidade inteira, aonde habitam as mais inspiracionais almas, é um presente.
É uma pulsão de vida, saber que não estou sozinha.
É um motivo a mais, pelo qual vale a pena se viver a vida.
Aqui, aprendi a amar, a odiar, a invejar, a lutar, brigar, me recompor, superar, dar a corda no relógio, bater asas e voar!
Aqui, caro amigo artista, me vi pela primeira vez ter um sentimento real de humanidade, de pertencimento, de paz. Minha fonte pulcra que urra em alta voz, do qual cada um que o adentra, pode utilizar meus dizeres da forma que bem entender - e está tudo bem. Este é nosso ponto em comum.
O desabrochar de grandes e péssimas ideias, neste mar imenso e surrealista de sonhos e pesadelos.
E eu, que não sou retentora de todas as boas palavras, sei que poderia mostrar-lhes melhor o que sinto por esta academia, se pudesse literalmente abrir a vocês minha alma, enfiar os dedos por dentro e rasgar as cortinas, para que todos pudessem ver as belas entranhas sentimentais que possuo - mas agradeço por não poder. Todos aqui já foram e são cúmplices de mundos sinistros que giram e colidem dentro de meu ser, agradeço pela cumplicidade, de enterrarem e calarem meu corpo cansado aqui, para que outro etéreo e majestoso, pudesse nascer.
Olho para todos os novos rostos e para os antigos, sentados em suas cadeiras de balanço na varanda, me lembro de ausentes rostos que já enfeitaram estes corredores e só sei louvar pela vida de cada um de vocês.
A Academia me salvou.
Me faz, a cada dia, permanecer:
Lutando.