Um leitor colocou a sua curiosidade no anzol. Lançou no oceano de contos. Mal aguentava de ansiedade. Queria logo fisgar um peixe grande. Quem sabe, um Hemingway. Ou um exótico Kafka. Lentamente, o tempo foi passando. Nuvens de palavras surgiram na linha do horizonte. Cobriram aquele céu azul de papel. Não era boa hora para chover. Cair imensos proparoxítonos. Muito menos onomatopeias explosivas. De repente, a linha se moveu. Enfim, ele pegou algo. Rápido, trouxe à superfície das letras.
Então, viu aquilo que realmente pescou. Um pequeno conto-sardinha. Desses continhos atrevidos e petulantes. Da mais ordinária espécie literária. Abundante em todos os sete mares linguísticos. Mas sem valor comercial algum. Geralmente desprezado. Até mesmo pela Grande Rede. Na qual passava despercebido entre as frívolas baleias.
Aquele leitor mirou o céu nublado. Uma furiosa tempestade de críticas se aproximava. Provavelmente, não pescaria nada mais. Mas ali estava aquele miniconto em suas mãos. Vivaz e saltitante para ser lido. Então, resolveu finalmente arriscar. Com cuidado aproximou dos seus olhos. O autor era um tal Rutinaldo Não-sei-o-quê. Mais outro pretenso escritor de que nunca tinha ouvido falar. E a história começava assim: “Um leitor colocou a sua curiosidade no anzol...”