A varanda do apartamento está aberta. E a manhã, nublada. Vejo três Urubus voando em círculo. A minha vida, com certeza, deve ser bem emocionante. Porque só tenho o que falar desses três Urubus. Nada mais. O resto é bobagem. O mundo é uma bobagem. Mas esses três Urubus me comovem. Um presente divino. Melhor que um ridículo buquê de rosas. Quem é presenteado com três Urubus? Nenhum de nós, zumbis vivos. Somente as consciências iluminadas…. pela companhia de eletricidade.
Me interessa o que essas graciosas aves estão fazendo. Enquanto do lado de cá, a Elite Sapiens da Natureza se suicida diariamente atrás de sua carniça mais predileta. A felicidade. Os Urubus talvez estejam felizes. Se é que dão importância a um detalhe tão insignificante! E talvez por isso, sejam realmente felizes.
Quem sabe… Quem sabe um cadáver suculento. E suas tripas saborosas refogadas como espaguete ao molho avermelhado. De sangue podre. Quem sabe… Três urubus felizes no dia 25 de junho de 2020. Um dia qualquer. Que ficará perdido em um tempo que nunca acaba.
Homens e urubus. Antigos irmãos separados pela Evolução. Um ganha os céus. O outro rasteja pelo chão.