Jamais vi amanhecer mais belo que no dia em que pensei que finalmente morreria: lágrimas como pó se tornaram sublime dor em meus olhos, e meus lábios sorriram o sorriso que então acreditei jamais seria repetido — único talvez sincero, não feliz ou triste, em verdade não mais que um fantasma de alguma sensação improvável e irreparável, daquelas tão raras, tão belas, tão vazias…
Estava diante de tudo aquilo que jamais seria ou sentiria outra vez, contemplando tão de perto aquilo que sempre desejei… a nulidade de cada dia afundando na nulidade de sempre, para sempre. E o único sentimento que me vinha era o mais amargo dos alívios…
***
Sim… Não houve um dia sequer em que não tenha conversado, flertado com meu próprio cadáver. Mas apenas em um desses dias ele me respondeu. Não tremi, não enrubesci, não gaguejei… não nada. Nesse dia não pude me decidir. E outra vez meu cadáver silenciou.
Ainda estou vivo.