E ainda...
Calígula
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 04/03/21 13:57
Editado: 06/07/23 11:26
Gênero(s): Reflexivo
Avaliação: 10
Tempo de Leitura: 58seg a 1min
Apreciadores: 4
Comentários: 3
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Palavras: 156
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

"Breeze still carries the sound

Maybe I'll disappear

Tracks will fade in the snow

You won't find me here".

Escrevi isso faz alguns anos. Ainda me lembro.

Capítulo Único E ainda...

Jamais vi amanhecer mais belo que no dia em que pensei que finalmente morreria: lágrimas como pó se tornaram sublime dor em meus olhos, e meus lábios sorriram o sorriso que então acreditei jamais seria repetido — único talvez sincero, não feliz ou triste, em verdade não mais que um fantasma de alguma sensação improvável e irreparável, daquelas tão raras, tão belas, tão vazias…

Estava diante de tudo aquilo que jamais seria ou sentiria outra vez, contemplando tão de perto aquilo que sempre desejei… a nulidade de cada dia afundando na nulidade de sempre, para sempre. E o único sentimento que me vinha era o mais amargo dos alívios…

***

Sim… Não houve um dia sequer em que não tenha conversado, flertado com meu próprio cadáver. Mas apenas em um desses dias ele me respondeu. Não tremi, não enrubesci, não gaguejei… não nada. Nesse dia não pude me decidir. E outra vez meu cadáver silenciou.

Ainda estou vivo.

❖❖❖
Apreciadores (4)
Comentários (3)
Postado 04/03/21 15:50 Editado 04/03/21 15:51

Mestre/Irmão... Eu me senti tão representado por estas linhas que meu íntimo se retorceu em um misto de alento e melancolia...

"...a nulidade de cada dia afundando na nulidade de sempre, para sempre."

Quantas vezes eu não desejei isso...? Me dói afirmar, mas é a verdade. E você sabe, meu velho... Você infelizmente sabe...

Que texto, Mestre/Irmão! Que obra! Fala mais à alma do que muita coisa neste mundo...

Muito obrigado. De tudo o que me resta de coração. E parabéns por conseguir extrair uma beleza mórbida e, ouso dizer, inspiradora de algo tão mordaz quanto o que se lê e se sente aqui... E lá fora.

Atenciosamente,

um ser com ideações, Diablair.

Postado 02/05/21 20:00

Quem nunca flertou com seu próprio cadáver que atire a primeira pedra... E a sensação pós flerte é apenas algo disforme que se transforma rapidamente de alívio para profunda tristeza.

O início do texto, com sua primeira frase, foi simplesmente lindo em sua morbidez! Gosto muitíssimo desse ar melancólico que emana de cada palavra aqui escrita!

Uma obra magnífica como um todo! Parabéns, e um grande abraço!!

Postado 17/12/21 21:18 Editado 17/12/21 21:19

Não é segredo para ninguém o quanto sou fã de carteirinha de suas obras. Essa, em especial, me prendeu do começo ao fim, porém trouxe à tona diversos sentimentos e reflexões. O texto é curto, mas, dentro do leitor, é possível encontrar diversas e singulares narrativas que giram em torno disto que você escreveu, isto é, a brevidade da obra encontra-se apenas em sua estrutura, pois, subjetivamente, é possível encontrar uma imensidão de significados. Todos nós, em algum momento, flertamos com a morte, porém, apenas alguns, conseguem sentir o peso de continuar vivendo...

Obrigada por compartilhar conosco.

Parabéns, Pablo ♥