Desde que eu era criança, sempre tive a necessidade de ser útil, acredito que isso tem relação com a história do meu nascimento. Nenhum dos meus pais me queria quando descobriram a gravidez, eles se divorciaram quando eu tinha seis anos e embora minha mãe sempre falasse sobre isso num tom de brincadeira eu me sentia muito incomodada. Por isso, a sensação de que eu não deveria existir nesse mundo martelava no meu corpo, o que me fez pensar em morrer mais de uma vez, contudo sempre desisti, pois, se fizesse isso seria apenas mais um estorvo na vida desses pais que não me queriam. De forma que quando conheci ele as coisas não foram diferentes.
Eu me apeguei a ele, me apaixonei por ele, amei ele. Eu acreditava que era recíproco, então fiz o meu melhor para ser útil para ele, para não o irritar, para sempre o agradar, entretanto não funcionou, descobri as traições apenas dois meses após o início da nossa relação. Ele dormia com outras enquanto mentia para mim sobre estar ocupado, mas não me importei, afinal, eu queria ser útil então aceitei tudo calada, continuei nossa relação, continuei a dormir com ele, mesmo sabendo que tantas outras estiveram em seus braços. E mesmo eu aceitando tudo, ele se foi.
Em um dia como qualquer outro ele apareceu, disse adeus, explicou brevemente que iria sair do país para trabalhar em Lisboa e então se foi. Eu me senti inútil, novamente eu fora inútil.
E agora enquanto andava pelas ruas de Copacabana eu o vi, pelo menos achei que o vi e apenas esse achismo fez meu coração saltar para boca, parecia ele, mesmo que o cabelo estivesse diferente, quem sabe ele pudesse ter pintado? Contudo, quando passou por mim, não era ele. Quem sabe seja melhor assim, pois ele provavelmente mudou enquanto esteve fora e eu permaneci aqui, tão inútil quanto era no dia em que ele partiu e tão inútil quanto serei até morrer.