Sabe, houve um tempo distante
Em que descobri uma Dimensão peculiar
Que permitia a qualquer de seus Habitantes
Criar vidas e universos como bem desejar
E com tudo aquilo fazer o que quisesse,
Desde de que respeitasse algumas Regras
Que o Fundador da Dimensão impusesse.
Como os Habitantes realizariam tal atividade?
Tudo se daria mediante a Escrita
Que, imbuída com o poder da Criatividade,
Em realidade ali se transformaria.
Um infinito Conjunto de conjuntos,
Infindável acervo de inúmeras Escrituras,
Cada uma preservada e, acima de tudo,
Coexistindo com as antigas e as futuras.
Como tudo com a Escrita se iniciaria
E todos começariam Aprendizes de modo igual,
O Fundador decidiu que chamaria
De "Academia de Contos" tão excelso local.
A Academia foi abrigando Criadores nela
E cada um deles conceberam suas Obras,
Mostrando uns para os outros suas Criações.
Logo se viu que Criatividade tinham de sobra
E não demorou para surgirem as Apreciações.
Diziam que tudo era paz, amor e carinho...
(Talvez um ou outro Drama, é verdade)
Raramente alguém trilhava outros caminhos
E se o faziam, era com muita suavidade.
A tudo em quietas sombras observei;
Inquieta minh'alma sombria estava
Pois a bondade parecia ser Lei
E com isso, meu estômago revirava.
Não pude mais me controlar
E então comecei a Criar também.
Contudo, minhas Obras eram para manifestar
Todo o Mal existente ali, em mim e além!
Só que isso não me foi suficiente:
Sem hesitar, logo passei a visar
Até mesmo os próprios Habitantes
Que ousassem comigo confraternizar...
Indo até os limites distintos
Que as Regras tentavam me cingir,
Dei vazão aos mais primitivos instintos
Que meu coração mofado pudesse nutrir...
Recordo-me muito bem
Da primeira a morrer:
Era tão Jovem
Com tanto Poder!
Amizade instantânea,
Uma admiração profunda!
Fiz que rasgasse a garganta
Com as próprias unhas...
Segui matando
Outras e outros
E fui me tornando
Um verdadeiro Monstro.
Claro que todos ressuscitavam:
Afinal, eram igualmente Criadores.
Alguns até se tornaram
Por fim, meus executores.
Uma Habitante, achando tudo bem louco,
Decidiu imperar na Carnificina!
Ambos matamos um ao outro
Inúmeras vezes... Eternos rivais nas chacinas!
Contudo, eu matava tanto
E com tamanha paixão,
Que acabou gerando espanto:
Alguns me chamavam de Bicho Papão...
Por vários fui repudiado
Por ser uma criatura maligna.
Entretanto, por outros fui admirado
Por alegremente chafurdar em tripas
Pois o Terror/Horror os atraía
E fascinava com deleite sombrio...
Mas sem exceções eu tolhia
Cada vida o mais cruelmente possível.
Meu Mal foi se espalhando
Como uma Doença
E alguns acabaram abraçando
Suas respectivas malevolências.
As contas fui perdendo
De quantos deles trucidei...
Chegou ao ponto extremo:
Até ao Fundador eu exterminei!
Nem mesmo minha amiga tão adorada,
Uma Divindade do mais alto escalão,
Escapou de ter a cabeça arrancada
E enfiada dentro de um garrafão...
Com orgulho e nostalgia,
Lembro de meu derradeiro terror:
Uma criança destruída
Se convertendo em um novo Horror..
Para meu espanto, todavia,
Algo muito mais destruidor chegou:
O Tempo, que com sua passagem irrestrita,
A muitos Criadores levou...
Novas Criações foram escasseando:
Na medida que o Tempo passava,
Várias Obras foram se Ocultando
E a muitos Criadores, o Tempo Anulava...
Eu mesmo quase fui vítima
Desde onipotente Adversário:
Teimoso, insisto em minha sina
Mesmo cada dia mais solitário
Até que em uma noite, sem aviso,
Ele finalmente me vença
E assim como Habitantes novos ou Antigos,
O Diabo da Academia desapareça...
Enquanto isso, vez ou outra,
Tento uma nova Criação
Para a Morte correr solta
E manter viva minha Escuridão...
Bem, foi exatamente assim
Que o outrora Paraíso
Foi sendo tão tingido de carmesim
E maculado pelo Maligno
Que nunca mais tornaria a ser puro e singelo...
Por isso, com muito orgulho digo
Que levei para lá um pouco do Inferno
Até converter parte dele em um Antro Maldito!