Superando a dor inopolível da distância, da farsa, do pecado, da morte. Comemorando a estoica existência vou bebendo da garrafa da vida eterna, risos encravam-se na garganta e um choro impulsivo cumprimenta a minha vida futura. Sê inexorável, não quebres com o vento, apenas dobra-te quando o mar não suportar mais enaltecer-te. Exatamente contrária nasci, exóravel, sou a adoxografia dos caminhos inertes da depressão, sou a passividade do coração feminino, sou a morte da coragem, o arrependimento da esperança. Venho e vou como o vento destrói cidades, arranco mágoas e ladeio-as até à morte. Queimo no gelo do Inverno e congelo peles com o meu toque de seda viscosa. Nasço da exacerbação espontânea, esporádica, contagiosa, criminosa. Incólume a nada sou, criada apenas de sentimentos, traço o meu caminho pelas faces de estranhos que me são tudo, doentes, saudáveis, enamorados, odiados. Junto com as minhas irmãs vou despertando o que é ser humano pela janela da vida. E, como se uma tragédia grega se tratasse, vou lentamente me desfazendo no maculado céu do paraíso, e junto com todas e tudo renasço novamente para uma vida incerta.