O dedo deslizava pela tela, e a cada deslizada parecia que um rosto conhecido acompanhado de um rosto infantil era visto. Um suspiro deixou os lábios da jovem, um suspiro tão amargo quanto o café que ela bebia. Todavia, essa não era uma sensação nova, já fazia algum tempo desde que a mulher aprendera a conviver com a solidão, pois embora suas manhãs e tardes fossem preenchidas pelos sorrisos amáveis de seus alunos, suas noites eram solitárias.
Não havia ninguém para conversar no ônibus, também não havia ninguém esperando em casa quando ela chegava tarde da noite após um dia cansativo. Não havia nada, não havia um bicho de estimação que dependesse dela para sobreviver, não havia uma mãe preocupada com a hora que ela chegaria – pois a mãe da mulher falecera há dois anos – não havia nada nem ninguém, apenas uma casa escura e gélida. Por isso, a jovem que sempre gostara de cozinhar para várias pessoas, tinha aprendido a cozinhar apenas para ela, assim como tinha aprendido a sentar sozinha na mesa para comer as refeições. Geralmente, quando estava sentada na mesa da cozinha olhando para a rua através da janela, a mulher se perguntava quanto tempo mais iria durar essa solidão.
Todos os dias, quando o relógio batia dez da noite, a jovem já estava deitada em sua cama de solteiro em seu quarto sem janelas, o sono sempre vinha rapidamente. Quando se levantava no dia seguinte, tudo era a mesma coisa, exceto pelos momentos com os alunos durante o dia, tudo era vazio. Diferente das companheiras de escola a jovem não havia conhecido um amor e muito menos tido um filho, ela também não possuía mais vínculo com as amizades antigas – pois toda tentativa de contato fracassava – a vida da jovem passou a ser monótona, uma constante solidão sem significado, contudo, mesmo pensando várias vezes que se desaparecesse ninguém sentiria sua falta, a coragem para tal ato era inexistente.
A ideia de que sua existência era resumida em ajudar crianças a crescerem e desenvolverem ao custo de nunca ter a sua própria, era uma coisa que a mulher pensava, ver todas a sua volta com pessoas para se preocupar ou pessoas que se preocupavam com elas, era uma coisa que deixava um gosto amargo na boca da mulher. Mas assim como ela aprendera a conviver com a dor da perda, ela aprenderia a viver com aquela solidão constante, até seu último suspiro.