O que será de ti agora
Que percebeste quão grande
É a mediocridade
De tua própria existência
E quanto tempo levaste
Para te dar conta do quinhão
De tuas falhas e omissões
E do quanto isso refletiria
Na vida de outrem
Além da tua própria?
O que será de ti agora
Que a ampulheta parece rachada
E a areia agora escoa
Feito a sangria desatada
Em teu mal formado coração
Em franca decomposição?
O que será de ti agora
Com aquela velha ideação
Flertando intensa e convincente
Como um diabólico sussurro
De uma amante excitada
Ao pé de seu ouvido
O tempo todo?
(Falta muito ou pouco?)
O que será de ti agora
Que o mundo lá fora
E o existente dentro de ti
Se tornam um só inferno
E tua alma afunda
Ainda que tenhas ajuda
Pois no fundo sabes
(Bem no fundo... Sabes)
Que toda a culpa
Das fezes, agruras e penúria
É tão e somente tua?
O que será de ti agora
Ciente que tua existência
Simboliza um desperdício colossal
Cujo ponto final
Parece só anteceder
A mais do mesmo
Ou até menos
Porém igual
Ao que foi desde o começo?
O que será de ti agora
Que se avizinha a hora
De ir embora
E talvez ir além
Ou quem sabe aquém
Até que não reste mais nada
Nem ninguém
Aliás, o que sobrou de ti, afinal?
Resta algo?
Digo, que seja válido?
Que valha ser salvo?
Será? Mesmo depois
De tanto tempo
No lixo jogado?
De (se) causar tanto sofrimento
E todas as decepções
A quem nunca mereceu
Da sua parte tais traições
(Incluindo tua própria pessoa)?
Quando será
Que enfim haverá
Algum acerto em toda
Essa história mal contada
No livro sem capa
Que escreveste com a bunda
E em letras garrafais
E quase todas fecais
A tua história de fracassos
O teu conto do vigário
Sem graça, sem resultados
Como estes versos
(Como todo o resto)
Um completo auto escárnio?
Quem sabe sob sete palmos...
Quem sabe?
Quem sabe.
O que será de ti agora?