O robô tem pensamentos de morte:
Mas o robô, sorri para os humanos brancos de dentes largos e deixa bem claro: "Não foi nada! Estou aqui para isto".
Programação, versão número 2.1.
O robô tem o encaixe da tampa da boca obstruído por dentro,
O robô não quer mais sorrir,
O robô não quer mais carregar caixas e desparafusar todos os parafusos de sua coluna...
Não...
O robô não entende como o dinheiro pode valer tanto assim para uns,
mas para o robô, se esvai tão rápido...
O robô não quer mais ser bonzinho.
O robô chora e enferruja suas superfícies.
O criador do robô não o compreende mais.
Seus donos o esqueceram na chuva, ele não faz mais bip-bop.
Só faz snif, snif.
O robô está triste,
ele acha que nunca chegou a ter um lugar real para chamar de casa.
O robô pensa que foi tudo uma armação dos capitalistas,
o robô está furioso por trabalhar sessenta horas semanais.
O robô segue no corredor apertado, até seu empregador:
suado, sempre observando.
Se o robô pudesse, ele escarraria, mas o robô ativa sua programação de sorriso
e de voz molinha,
então com cuidado, calculadamente o robô profere
em voz melodicamente maquinária:
- Eu estou cansado...
Mas não!!! Robô foi criado para não cansar.
- Robô está exausto...
Mas não, Robô! Foi o combinado.
- Robô sente muito, Robô não sabia que seria desta forma.
Vocês, robôs... Sempre fingem não saber de nada. Muitos robôs, muitos humanos, dariam tudo pelo seu lugar.
Ouvindo isto, robô se zanga.
Robô, com seus pulmões de aço, programa sua respiração compassada
24/7.
Robô não consegue controlar.
Pane geral.
Fumaça quente sai de suas ventas, fumaça quente sai pelos ouvidos,
os olhos vermelhos do robô já estão resolvidos
e soltam de novo óleo preto escaldante.
Lágrimas de principiante.
Mas até quando, Robô?
Quando você conseguirá quebrar as pernas deles?
Um pixo no muro bem branquinho: "abusadores" em letras garrafais?
Quando, Robô, você libertará seus colegas, tão exaustos quanto você?
- Robô não consegue sozinho... - ele arranca uns fios da cabeça.
O robô quer se desligar, hibernar, modo demo, apenas no automático
Todo dia a mesma estrada,
os mesmos livros,
as mesmas vozes,
o mesmo andar pesado,
a mesma sensação angustiante, nojenta, repentina,
avassaladoramente cruel, a mesma sensação de morte,
de perigo, de dor, de ódio brota no peito,
todo dia, todo dia, Robô!
- Robô odeia os humanos.
Todos nós, Robô, todos nós.
- Robô quer destruir essa montanha de lixo!!!
Robô, desapareça logo daqui!
Pequenos avanços, Robô, amanhã você acaba com eles.