O meu gênio da lampada é o cheiro de café sendo passado. É até melhor que bebê-lo. Segundo a ciência, comparado com nosso riquíssimo olfato, cheio de matizes e tonalidades, nosso paladar é limitado. Por isso que quando estamos gripados, com o nariz entupido, qualquer comida fica sem graça.
Por isso o cheiro do café para nós é mais excitante, mais ebriático. Quando a água borbulha e acorda o pó negro, a fumaça que sobe é para mim um gênio-da-lâmpada que está sendo libertado, cujo fim é entrar em nosso nariz e conceder-nos um desejo que não precisa nem ser expresso em palavras.
Mas aí, vem o primeiro gole. Eu adoro café, mas comparado com o prazer causado pelo seu cheiro antes, o gosto chega a ser um anti-climax.
Esses momentos, o ''antes'', é bem frequente em nossas vidas. O momento antes do beijo, o momento antes da abertura do filme, o momento antes do time entrar em campo, o momento antes do show.
Antes, tudo é possível, tudo é infinito. Depois, no entanto, mesmo o melhor dos momentos pode ser corrompido por nosso espírito humano: ''Sim, adoro café, mas o prazer causado pelo seu cheiro é superior… ''
O começo é sempre melhor, porque naquele instante o sonho é a soma de tudo, de todas as eventualidades, é inexaurível. O problema principal é que, todos os sonhos de uma maneira ou outra, se encaminham para a realidade…