No breu do quarto, senti sono. Um sono pesado e desconfortável, um sono que distorce tudo, apagando os contornos da realidade e deixando apenas o recheio fantasioso do que estava ao meu redor. Pisco algumas vezes, fecho os olhos com força e uso de todas as artimanhas guardadas na minha cabeça, mas não adiantou. O sono estava lá, mas não dormia. O cansaço estava lá há, mais ou menos, 3 dias. 4 dias, sei lá. Quatro, talvez três, dias sem paz, sem descanso e sem noção. Noção de quê? Noção de tudo. Minto, tudo palpável, tudo que não foi oriundo da minha cabeça. Ainda mantenho minha cabeça em condições. Raciocínio não me falta. Não sou selvagem, pois selvagens não observam. Eles agem. Não ajo, nem machuco. Curo, de certo modo. Curo o ego, exalto, elevo mais que os arranha céus, perfurando as nuvens e lhe entregando o trono. De algum reino? Não, do mundo, feito uma divindade, mas sem crueldade. Sem arrogância e imponência. Merecedora da minha servidão, do trabalho duro que faço sem receber. Da proteção, da admiração, das fugas as pressas. Fujo para não te incomodar, te assustar, quero te proteger. Daqueles outros que agem e não se contentam em observar. Por isso venho toda noite, observando seu descanso pesado, lembrando do seu sorriso no ônibus, me escondendo no seu armário velho. No breu do quarto, espero que sinta sono.