Sinto muito em ter que lidar com o assunto, no entanto, prometo não o fazê-lo com o colorido das revistas e jornais da época, os quais se torcidos, derramavam litros de sangue e, de quebra, vou relembrar das façanhas de meus amigos internos do
Educandário Dom Duarte
, que é o que importa no fim.
Bom, primeiro o crime em si, para ajudar a memória do leitor que viveu à época (1984) e para os mais novos, confirmem com seus pais ou amigos mais velhos...
Numa noite de inverno serrado, fatídica noite de agosto, três jovens, duas moças e um rapaz, foram vítimas de três rapazes, foram violados, decapitados e jogados no lago da Pedreira, famoso local que se avizinhava ao Educandário Dom Duarte, à beira da Estrada Velha de Cotia, lado oposto do cemitério Israelita.
Nenhuma das pessoas envolvidas nesse ato de brutalidade tinha mais que dezessete anos, supõe-se que a coisa toda se deu por motivo de uso de drogas pesadas, já que, os assassinos foram facilmente achados na manhã seguinte, dormindo o mais profundo sono dos justos e em suas casas.
Pronto, como prometido, o crime... E vamos voltar ao que nos interessa de fato, os adolescentes do Educa:
Quando o número de internos maiores nos pavilhões juntos ficava reduzido a uma quantia de quarenta e cinco, a diretoria os acomodava num pavilhão único, esse era chamado de pavilhão dos grandes, o fato de todos eles estudarem e trabalharem fora, atrapalhava o andamento das crianças nos lares, já havia acontecido isso por volta de 1975 no pavilhão 15 e voltou acontecer em 1981, agora no pavilhão 22, na administração da Marina e do padre Paulo.
Sempre foi habito dos internos do Educa e, isso já vinha de longa data, andar sempre em bando, era muito raro ver um interno sozinho onde quer que se fosse... Havia uma coisa de irmandade que não se podia explicar.
Assim, quando os meninos do pavilhão 22 começaram a curtir os bailes da região, o fizeram em bando, de doze ou quinze.
Tal atitude servia para evitar o pior nas ruas e becos escuros das quebradas, andar em bando evitava, por exemplo, que, fossem vítimas de extermínio, pratica largamente executada pela polícia da época, ou por outros bandos.
Os chamados “Neguinhos do Educa” corriam por todos os cantos, desde o Arpoador até o Parque do Lago, do Taboão ao Jardim Indiana e outros muitos mais adolescentes se juntavam ao grupo na necessidade de se protegerem.
Sem mais nem menos, aconteceu um fenômeno curioso, os meninos saíam pela caixa de força, perto da administração em numero de quinze, pouco mais de tempo já se contavam com um grupo de cinquenta, se a noite fosse mais longa, atingiria e passaria de uma centena.
Algumas pessoas que sabiam da união do grupo, ao verem que os internos estavam prestes a sair de um baile, simplesmente acompanhavam o grupo rumo à outra localidade ou simplesmente para voltarem aos seus lares, uma pessoa desavisada ao encontrar com o comboio na noite, pensaria se tratar de uma verdadeira procissão.
Em Novo Osasco, precisamente no clube do SENO, se dava um dos melhores bailes Black da região, essa é uma localidade que não era assistida por linhas do ônibus, a melhor maneira de se chegar era mesmo a pé e, mais uma vez, foi-se o bando para lá.
Na volta, quem estivesse na altura da portaria do Educa e voltasse a cabeça para ver onde terminava o comboio veria que ainda vinha gente da entrada no jardim Lúcia.
Aqueles três adolescentes que costumavam seguir o grupo, por obra do acaso ou do destino, se alguém assim o quiser, se atrasaram e passaram do lado oposto da entrada da Pedreira, exatos cinco minutos depois que o bando passou.
Esses cinco minutos foram cruciais para determinar a manchete do dia seguinte e a Pedreira virou, em rede nacional, sinônimo de terror.