É bom me deixar entrar no banho,
Fervura em pele fina
Me deixar cozinhar por uns tempos
E afugentar cada mosquinha que pousa sobre os azulejos
As invejo pois elas são pequenas e tem asas
Mesmo assim preferem estar no lugar mais sujo da casa.
Fico pensando,
Se não faço o mesmo
Pequenina insana, com asas na mente:
Ainda me encontro no lugar mais sujo da casa
Não nesta casa de tijolos, não nesta rua, neste bairro, cidade ou universo
Ainda sou um pequeno e encantador ser de asas que suga ínfimas migalhas
E repousa sobre as escuridões mais putrefadas de seu próprio ser.
Como sair deste labirinto de memórias?
Como saltar por cima destes muros cheios de carne amanhecida:
Carne que com mordidas arranquei as piores das melhores partes de mim?
Eu poderia roubar lambidas de um delicioso prato
Poderia me transmutar em borboleta
E refazer a história da biologia!
Poderia voar até a lua e destruí-la,
Mas ainda estou aqui com pés descalços que facilmente sangram...
Ainda estou aqui,
Sendo este artefato maligno que criei:
E a conclusão mais perpétua e tola
É que não sei o porquê.