Era uma noite escura e tempestuosa, o relógio marcava 22:47, já tinha tomado meu banho e colocado meu pijama. Não fiz questão de descer para jantar, afinal nem estava com fome mesmo. Eu não queria mais sair do meu quarto, meus pais provavelmente estão preocupados... mas quem liga? Nem sei porque se importam, sou apenas um menino que não consegue manter o próprio relacionamento.
Eu ainda me lembro das palavras da Akemi, e sinceramente, agradeço por ela ter terminado comigo logo quando descobriu sua paixão pela Nozomi, sua melhor amiga e atual paixão, pode ser até que estejam namorando. A verdade é que eu perdi contato com Akemi depois do termino, não queria olhar nos olhos da mulher que fui apaixonado por 4 anos e ainda sou, sabendo que ela ama outra. Não teria coragem de fazer isso.
Há uns meses que fui diagnosticado com depressão e síndrome do pânico, depois de 3 anos de terapia. Sempre achei que tivesse algo de errado comigo, nunca consegui fazer amigos tão facilmente ou entender as brincadeiras das crianças ao meu redor. Qual o sentido de se esconder em 10 segundos para alguém te achar depois? Mas akemi sempre pareceu me entender e ficar comigo quando eu não conseguia me enturmar ou falar em público ela estava lá me apoiando em tudo, sempre ajudando e sendo a amiga que eu precisava.
Com 15 anos descobri que era apaixonado pela minha melhor amiga de infância, Akemi Yoki. Foi terrível o início, eu não tinha com quem desabafar além da Akemi, então decidi guardar para mim mesmo, e esperar esse sentimento desaparecer. Até num jogo de verdade ou desafio, que ocorreu no aniversário de 16 anos da Nozomi, onde Yoki me obrigou a participar, meus sentimentos mais secretos foram obrigados a serem revelados no meio de 20 e poucos adolescentes bêbados, por sorte do destino, Akemi correspondia meus sentimentos, na mesma intensidade que eu...
“Eu também gosto de você Itami, certamente antes de você gostar de mim, mas isso não importa contanto que você me ame na mesma intensidade que eu te amo ...”
Depois do aniversário, eu e Yoki começamos a namorar e foram os 3 anos mais felizes da minha vida, com toda a certeza do mundo eu digo isso. Nós nos formamos juntos e estudávamos na mesma faculdade, eu cursando Física e ela Português. Nós passávamos os fins de semana um na casa do outro, vendo filmes ou séries, indo à praia, jogando jogos online e principalmente, sempre trocando abraços e beijos como forma de afeto. Akemi foi, e sempre será minha salvação e minha luz, foi ela que me ajudou a superar quando meu irmão morreu em um acidente de carro, ela que me defendeu do bullying no fundamental, ela que me recomendou procurar assistência profissional indo em terapeutas e psicólogos, e foi ela que me fez sentir um sentimento único e que eu talvez não vá sentir de novo por outra pessoa tão rápido. Tenho poucas certezas na minha vida, mas uma delas é que sempre vou amar Akemi Yoki, seja romanticamente ou fraternamente, eu sempre irei querer o bem dela e que ela alcance seus sonhos.
Akemi sentia o mesmo por mim, até um certo tempo... Eu já tinha percebido que ela estava estranha, ficava desconfortável quando eu ia beija-la ou dar um abraço, hesitava em responder um “eu te amo” e minutos depois respondia com um “também”. Mesmo suspeitando que algo estava errado, eu continuei com aquela rotina, sem perceber que a única coisa que precisávamos era conversar. No fundo eu sabia que o único jeito de “quebrar” a barreira que Yoki criou, era conversando e deixando tudo o mais claro possível; mas eu negava, fingia que estava tudo bem e aqueles problemas no nosso relacionamento não existiam, que estava tudo igual, como no início do namoro.
No dia 27 de julho, Akemi me chamou para conversar em um parque próximo a minha casa, 8 da noite, foi o horário que ela marcou. Cheguei no parque e eram 20:01, Yoki já estava lá, linda como sempre; com um moletom de algum personagem de anime que não reconheci na hora, uma calça jeans azul escuro e seus típicos tênis all stars pretos de cano baixo. Seus cabelos loiros e lisos estavam presos levemente em uma trança solta e baixa.
“Tem uma coisa que eu queria te contar a uns dias Itami, mas não tinha coragem de te falar. Até eu perceber que continuar mentindo para você me faria uma pessoa pior do que eu vou ser para você quando terminarmos essa conversa. O ponto é, eu sou eternamente grata a você, Itami aiko, a todos os nossos momentos juntos, você me ensinou o que é se apaixonar e esses últimos 3 anos tem sido incríveis, de verdade, eu só acho que continuar fingindo que está tudo bem, que eu estou bem... Não vale a pena. Eu sempre irei te amar Itami, mas não do jeito que você me ama. Eu me apaixonei novamente ... eu vim aqui te dizer que eu quero terminar, eu não sinto o mesmo que eu sentia meses atrás, e continuar com esse relacionamento faria eu sentir que estou enganando e iludindo você. Eu já me decidi, eu não consigo continuar com isso sabendo que estou olhando para minha melhor amiga do jeito que eu olhava para você. Então era isso que eu queria falar, quero terminar... Boa noite Aiko.”
E ela foi embora. A única coisa que eu lembro daquele dia foi das minhas pernas fraquejarem quando ela disse “melhor amiga”, eu já sabia de quem Akemi estava falando, eu notei como minha namorada estava olhando para Nozomi Mari, do mesmo jeito que ela olhava para mim. Percebi isso em uma festa que teve nos dormitórios da faculdade, quando Akemi ficou claramente com ciúmes quando viu Nozomi beijando uma menina da turma dela.
Com todas as lembranças dos meus momentos com Yoki, me dirigi ao meu quarto indo para a porta que levava aos fundos da minha casa, já estava decidido que iria fazer isso. Akemi era a única pessoa que conseguia me alegrar, a única que eu confiava. No final Akemi, mesmo sendo minha ex-namorada, ainda é minha melhor e única amizade que eu tenho. E como eu tenho conhecimento que não conseguiria olhar na cara dela de novo, sabendo que ela estava feliz com outra pessoa e que eu não passava de um ex-namorado, resolvi acabar logo com isso.
Já estava tudo preparado, a corda estava bem amarrada no galho da árvore onde tem uma casinha feita de madeira que eu e Akemi passamos boa parte da nossa infância. A cada passo que eu dava em direção a árvore, mais certeza eu tinha que aquilo iria melhorar tudo para todo mundo. Me posicionei em cima do banquinho em baixo do galho e fiz um nó na ponta da corda, com um espaço grande o suficiente para caber minha cabeça dentro. Apertei a amarra no meu pescoço e fazia cocegas, então, com o resto de coragem que me restava eu empurrei o banco dos meus pés e com as últimas forças que eu tinha, sussurrei:
"Eu sempre irei te amar, Akemi Yoki”
E soltei meu último suspiro.