Seria meu sonho tornando-se realidade, se tu realmente procurasses por meu número em sua lista telefônica após embriagar-se com três taças de vinho durante a madrugada?
Ligarias o rádio naquela estação. Sim, na qual narrava um novo episódio da sua novela preferida às quatro e meia em ponto para evitar a audiência das crianças. E, durante a cena em que faria seu coração pular para fora do peito, lembrarias do meu sorriso enquanto ainda nos falávamos uma época atrás e em como minha mão repousava intimamente sobre suas pernas.
De repente olharias o piano coberto de pó e caminharias até ele em passos trépidos, arriscando soar notas de uma música a qual insistia hiperbolicamente que eu a escutasse para logo mais estarmos sentados ali, juntos e apertados no mesmo banco retangular revestido de cetim e destinado à uma só pessoa, enquanto era tu e seus dedos ágeis, eu e minha uma oitava.
A máquina de escrever te convidaria para redigir nem que fosse uma última carta de amor, a última apenas.
A égide que consola não só meus anseios utópicos, mas o seu medo de discar o final zero doze, seus passos receosos até uma marca nossa e a angústia de relembrar como joguei seus bilhetes fora... É acreditar no tempo insuficiente, para que um sonho assim tão circunstanciado e livre de mágoas, se concretize com um “eu ainda te amo” antes do meu despertar.