Todos os dias, assim que abro meus olhos, saio da cama com o meu corpo pesado e fico parada diante do espelho.
Encaro meus olhos vazios, com olheiras profundas por causa das noites mal dormidas graças aos batimentos acelerados do coração e dos pensamentos inquietantes.
Tento esboçar um sorriso, não consigo. Forço uma expressão sorridente puxando os lábios para cima, mas o resultado é um rosto inchado cheio de lágrimas com um sorriso falso.
Vou ao banheiro e prossigo com a minha rotina pacata. Olho mais uma vez para a garota no espelho.
Coloco um pouco de maquiagem nas olheiras e batom sobre os lábios machucados. Sabe como é, autopunição faz parte da minha rotina.
Ajeito a manga da blusa sobre os punhos. Tomo minhas pílulas entorpecentes.
Não tomo café. Meu pai não questiona, afinal, estou gorda, preciso emagrecer. Uma refeição a menos é um favor que estou fazendo a minha saúde.
Vou à escola e com o meu sorriso falso cumprimento a todos. As belas loiras riem e fazem piadas sobre o meu corpo, os fortes atletas afirmam que ninguém namoraria alguém como eu.
Passo o dia inteiro escutando o quão quieta sou e que eu deveria usar menos maquiagem.
Após o período de aulas, retorno para casa. No jantar, engulo mais pílulas. Bebo um copo de suco e como uma fruta.
Tomo banho e visto meu pijama, sequer acesso as redes sociais.
Novamente me deparo com o meu reflexo.
Não há verdade nos meus olhos. Não há verdade nos meus gestos. Não há verdade em mim.
Eu sou uma farsa.