O que você está prestes a ler não é uma história comum e sim uma história a qual a fada não é boa nem madrinha, o príncipe não é encantado e a protagonista não é uma camponesa e sim uma bruxa.
Você acreditaria se eu dissesse que a maioria dos animais encantados assombravam os sonhos das crianças do vilarejo na madrugada?
Eles são fofos e inofensivos por fora, mas o terror por dentro. Espere a madrugada e verá o que eles fazem enquanto cantam músicas de ninar. Então num bosque ao qual a melhor maneira de fazer alguém pedir desculpa é enfeitiçando-a, uma bruxa nasceu. A luz do luar e o barulho do rio junto ao choro da criança que acabara de nascer faziam do cenário algo mágico e trágico ao mesmo tempo. A filha da lua era como chamavam a pequena garotinha que buscava o peito de sua mãe para mamar. Sua mãe, uma bruxa da luz, fugiu quando grávida do pequeno vilarejo de onde morava para um bosque encantado, achando que seria melhor conviver num local onde o sobrenatural é normal e o natural é anormal.
Vivia numa casinha pequena de madeira a beira do rio, enquanto o resto dos animais viviam sobre as árvores e plantas do grande bosque. Depois de uns dias, uma fada visitou a pequena bruxa e enciumada com tamanha beleza e dons da bruxinha, a enfeitiçou, ela seria a pessoa mais malvada do bosque e todos que a olhassem sentiriam nojo e repulsa por uma pessoa com tamanha maldade. O feitiço só se quebraria se uma pessoa a amar e enxergar pelo menos um pouco de bondade naquele ser tão maldoso e este depois de liberto do feitiço o amaria de volta.
Então a mãe da bruxa tentou de todas as maneiras desfazer o feitiço, sem nenhum sucesso. Tristemente faleceu quando a bruxa tinha seus 3 anos. Sua malvadeza começou aos 2 anos, quando começou a tacar pedras do rio na mãe toda vez que ela ia lavar roupas, parecia inofensivo, até piorar. Aos 3 anos, antes de sua mãe morrer, a pequena quebrou o pescoço de um passarinho apenas olhando para ele durante um tempo e o abriu, usando seu sangue como tinta para desenhar nas pedras do rio. Sua mãe horrorizada a pegou no colo e a levou para casa. Depois disso as coisas pioraram.
Um dia, a bruxa com seus 15 anos foi colher algumas frutas para comer. No caminho encontrou uma casa onde sabia que existia uma velha, caduca e fofoqueira, e de longe viu um lobo adormecido. O acordou e o enfeitiçou o fazendo adentrar a casa e engolir a velhinha. Não achando suficiente, o fez se vestir de velhinha a fim de enganar a neta da falecida velha que a visitava todas as tardes. A mesma cantava músicas irritantes e usava um capuz vermelho. Não demorou muito para observar de longe a garota de capuz vermelho, puramente tosca, adentrar a casa e depois de um tempo ouviu um grito e um uivo. Enfim, se livrou das duas. Matou o lobo logo depois.
Foi então para o rio beber água e encontrou um príncipe as margens do mesmo. Este cantava músicas de apaixonado e olhava para a natureza como se estivesse encantado. A bruxa já irritada com toda situação, fez com que o príncipe caísse no rio e se afogasse. Viu o corpo do mesmo descendo as margens do rio, sabia que iria desaguar perto do castelo. O príncipe herdeiro do reino vizinho morreu, um ser egoísta e masoquista.
Depois de algumas semanas retornou o mesmo caminho parando no rio. Encontrou um jovem vestido com roupas de camponês e estatura forte. Não sabia o porquê, mas sentiu necessidade de se aproximar e quando tentou fazer algo o mesmo a olhou e foi como se uma espada estivesse atravessando o peito dela. Fez algumas maldades e depois de muito suar o fez correr. Voltou no dia seguinte e lá estava ele novamente. Tudo se repetia todos os dias, até que um dia ele não correu, nem se afastou. Ele foi até ela e deu um beijo nos lábios carnudos da bruxa, depois proferiu três palavras: eu te amo.
Foram três palavras sinceras e suficientes para quebrar o feitiço. Um peso saiu do peito da bruxa, ela se sentiu livre e pela primeira vez na vida se sentiu feliz. A bruxa explicou toda sua história para o camponês, que entendeu e a cada detalhe a amava mais. A bruxa fez do bosque encantado um lugar melhor. Os animais pararam de atormentar as crianças do vilarejo e a fada de tanto ciúmes morreu.
No final, a bruxa e o camponês se casaram e viveram "felizes para sempre". Se claro, a eternidade permitisse e se porventura, você acreditasse em finais felizes.