O Aquárium, costumava ser o lugar mais curioso e deslumbrante da cidade, com paredes e teto de vidro aonde peixes de todas as cores e tamanhos transitavam, chegava a ser de fato assustador, andar por sobre um vidro que te separa a sessenta centímetros de um tubarão sanguinário, ou de tanto observar o trrânsito dos peixes, sua cabeça começa a ficar pesada, você começa a ficar hipnotizado...
Agora, haviam peixes de todas as cores na grama, mortos, muito lodo e chorume pintavam as paredes quebradas do Aquárium e, para a infelicidade de Lúcia, Yvi estava prostrada na grama, tentando salvar as espécies.
Yvi era uma criatura tão estranha que revirava o estômago de Lúcia, possuía pernas de aranha robótica no lugar de pernas humanas e olhos biônicos que podiam ver em 360º. Yvi, foi uma experiência bem sucedida. A mulher transformou a si mesma em um monstro CyberPunk de arrepiar.
- Como vai a vida, Lúcia querida? - Yvi a viu chegar, mesmo estando de costas.
- Bom, levando-se em conta de que, depois da atrocidade que você fez comigo, eu não sou mais capaz de morrer, vou bem, obrigada.
- Deveria me agradecer. Quem está no branco de trás da van?
- O que restou de Meiling, penso que Manoel quer que você faça algo, mas eu te proíbo! E te bateria, se ao menos você sentisse dor, mas meu braço está machucado então, vou conter minha raiva! - Lúcia respirou fundo enquanto percebia que suas feridas já estavam cicatrizando, maldita vida eterna.
- E o doutor sabe então que minha experiência foi um sucesso... Engraçado, parece que a experiência de vocês não foi... - Yvi virou seu rosto lindo de pele negra para Lúcia, que cuspia fogo pelas ventas.
De fato, o belo rosto de Yvi, não combinava com seu corpo mecânico bizarro. Uma quebra de expectativas, era disso que ela gostava.
- Você tem uma parcela de culpa nisso. Você que fabricou os homúnculos, nós apenas os modificamos.
- Meus homúnculos são perfeitos, vocês que são burros. - Yvi sorriu - E o laboratório de vocês, também foi destruído?
- Assim como seu Aquáruim... - Lúcia insultou.
- Vai se lascar! - Yvi se levantou por inteiro, agora ela possuía mais de três metros de altura. Lúcia engoliu em seco.
- Cadê o Manoel?
- Seus olhos fodas não conseguem achá-lo?
- Sim... Já o achei. Ele está analizando os restos que o Acrimet deixou em nas paredes do Aquárium. Bom, aonde posso operar Meiling agora?
- Eu te proíbo! A vida eterna é terrível, Yvi! Eu sei que você queria me ajudar, mas não ajudou. Deixe-a descansar. Não temos tempo para isso, temos de reverter o que aconteceu.
Yvi concordou com um leve aceno de cabeça.
- Ele deve ter ido atrás da Lúcia, não sei por qual razão não me matou. Eu que "dei a luz a ele" - ela disse fazendo o sinal de aspas.
- Talvez seja por isso. Ele tem consciência, Yvi, ele não matou Meiling, ela morreu por algum outro motivo...
- Atropelada, com certeza, há umas horas atrás o caminhão do laboratório passou voando pela rua, pude ver uma mancha de sangue e veja só... - Yvi caminhou até o meio da rua, com suas oito pernas, abaixou-se e pegou um sapatinho preto, ainda calçado.
- Oh não! - Brotaram lágrimas dos olhos de Lúcia.
- Sim... O pézinho de Meiling é realmente lindo. Pena que não serve mais pra nada. - Yvi arremessou-o no mar, com seu braço esquerdo que também era biônico.
- Megera! - o estômago de Lúcia embrulhou.
- Você está muito faladeira hoje, Lúcia! - Diablerians surgiu, sujo de piche.
- Encontrou algo, doutor? - Lúcia indagou.
- Encontrei esse carinha... - Diableir mostrou um pote lacrado, com um conteúdo pastoso e preto dentro.
- Um dos homúnculos modificados. Pelo aspecto, deve ser a experiência mil e um.
- Ele foi longe! Emocionante! - Os olhos de Lúcia brilharam.
Os três pirados se entre-olharam na mesma hora que foram iluminados pelas sirenes da Polícia e o apitar latejante das Ambulâncias. Diablerius suspirou, arrepiando as sobrancelhas, elas já sabiam qual era a ideia.
- Doutor, não! - Lúcia se colocou na defensiva.
Mas ele não ouviu, abriu o pote que carragava consigo e injetou em uma das superfícies pastosas da criatura, o que continha na seringa, a criatura horrenda imediatamente pôs-se a crescer, tomando para si todo tipo de cheiro e barulho grotesco.
O vidro que a continha não mais existia, a criatura crescera tão rápido que estava maior que os três estariam se estivessem um por sobre o outro.
As mulheres estavam paralisadas, uma enfurecida, outra fascinada.
- Doutor!!! - Lúcia desferiu socos nas costas do doutor, que não se importou com isso.
- Vá, meu filho, livre-se deles! - o doutor apontou para os policiais, já em posição de atirar.
A criatura obediente e grata por ter sido tirada do vidro, avançou contra os carros, engolindo-os e engolindo tanto os guardas quanto os paramédicos.
Diablerius caiu de joelhos em prantos de emoção. Era lindo.
- Você é doente demais, vamos Lúcia, precisamos seguir o percurso. - Yvi foi andando na frente.
- Não podem saber o que criamos aqui! Vocês é que são loucas, precisamos adestrar esses bichos! Esses... Maravilhosos bichinhos... - ele olhou para o monstro que estava mudando de preto para vermelho por causa de tantos humanos que havia digerido bem ali, em cinco minutos.
- E quanto à Meiling? Talvez eu possa consertá-la. - Yvi esticou seus dedinhos metálicos no ar.
- Doutor, eu te proíbo! - Lúcia clamou.
- De novo? Melhor deixarmos Meiling descansar, por hora...
Os três olharam para frente vendo ainda o rastro de horror deixado pelas criaturas assassinas.
- O que fazemos com este? - indagou Lúcia.
- Será nosso amigo! - Yvi acariciou a criatura que agora estava quietinha, parada, parecia ter diminuído de tamanho consideravelmente - Precisaremos dele.