O Gato e a Janela
Silva
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 07/11/20 14:06
Editado: 06/12/20 11:39
Gênero(s): Reflexivo
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 2min a 3min
Apreciadores: 5
Comentários: 4
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Palavras: 442
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

Arte pela autora e artista incrível: Estella Monteiro.

http://www.academiadecontos.com/perfil.php?username=estellamon

Capítulo Único O Gato e a Janela

Numa noitinha qualquer, o gato preto subiu no muro da casa como costumeiramente fazia. Apolo sentou-se sobre o concreto balançando sua cauda felpuda levemente. Lá do alto, seus olhos verdes observavam aquela ruazinha pacata que não era lá tão interessante. Carros e motos vez ou outra interrompiam o concerto repetitivo dos grilos enquanto as pessoas sempre apressadas passavam por aquela rua mal iluminada. Só havia um poste que ficava mais ou menos no centro da Rua 13, e ele piscava de vez em sempre.

Naquela rua escura e monótona, uma luz chamou sua atenção. Num casarão, uma janela emitiu aquela típica claridade amarelada. Apolo se lembrou que o Sr. Lírico tinha dito algo sobre uma nova moradora na vizinhança com a Sra. Poética no café da manhã. Curioso como era, o gato preparou as patas e calculou um pulo perfeito. Uma aterrisagem leve como sempre. Depois de chegar ao chão, foi-se para o outro lado da rua. A casa da vizinha misteriosa tinha o muro baixo, e chegar até a janela seria moleza para ele. No entanto, uma placa também avisava: CUIDADO! CÃO BRAVO!

Apolo bem conhecia o ditado popular sobre gatos e a curiosidade, mas sua noite estava tão chata que preferiu correr o risco. Esgueirou-se pelo murinho branco atento ao interior da típica, porém grande, casa de alvenaria. De frente, nenhuma outra janela da casa estava acesa. Aquela ao lado esquerdo, perto do quintal, era a única. E justamente no quintal repousava um grande rottweiler. Parte de si quis dar meia volta diante do perigo eminente, mas ele já havia cruzado a rua e não ia desistir agora. O cão estava ocupado dormindo, e mesmo que acordasse, Apolo podia subir no telhado antes dele o alcançar. Com cuidado e um pouco nervoso, o gatuno finalmente chegou na iluminada janela. Apolo viu um berço, era um quarto de bebê. Leve, colorido e mesmo com a janela fechada, seu olfato felino podia captar o cheirinho de lavanda lá de dentro. A pequenina estava sentada no berço e uma moça segurava um livro cheio de figuras na frente dela contando uma história. Apolo conseguia ver olhinhos atentos e um pequeno rosto em contemplação. A moça tinha os cabelos vermelhos e um sorriso bonito. Ela parecia trazer a magia do livro sair das páginas para aquele quarto. Uma série de aventuras e mundos preenchiam aquele pequeno espaço. De repente, a moça notou o curioso gato na janela. Mas diferente da maioria das pessoas, ela não teve medo e nem o enxotou. Apenas sorriu para ele. E a cada noite, mesmo diante daquele vidro e do dorminhoco rottweiler, Apolo também parava para ouvir aquelas histórias.

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Postado 07/11/20 16:23

Olá, Sr. Rei do Norte!

A imagem de capa e o título do texto me chamaram muito a atenção, pois achei tão bonito!

Cheguei no texto já esperando uma história de cotidiano, e fui surpreendida por uma linda história de cotidiano!

Só fiquei um pouco triste com o final, pois mesmo não enxotando o gato, ele também não foi adotado...

Até cheguei a pensar na teoria de o gato ser um espírito, por isso não acordava o cachorro, e por isso a parte sobre falar que a moça humana não se assustou com ele... E isso explicaria o fato de ele não ser adotado...

Mas não sei, provavelmente era um gatinho vivo mesmo, ne!

Só sei que eu gostei muitíssimo dessa leitura tão maravilhosa!

Obrigada por compartilhar seu texto conosco!

Um grande abraço <3

Postado 07/11/20 16:47

Oi Mei, sempre bom compartilhar histórias com você. Foi uma interessa interpretação.

Pra mim esse texto tem um significado pessoal. O gato sou eu, a rua escura eram meus sentimentos antes de ver a luz naquela janela e a moça no quarto é alguém que eu conheci mas está distante. A distância entre nós é o vidro. Ela é babá de uma criança.

Muito obrigado por vir.

Postado 07/11/20 16:53

Que lindo isso, saber qual foi o seu significado pessoal do texto me fez ficar ainda mais maravilhada com a obra!

Sei o quanto é triste amar alguém que está distante de nós...

Mas torço muito para que a janela seja aberta, e o vidro não seja mais uma distância entre vocês <3

Postado 03/12/20 18:15

Apolo, que escolha perfeita de nome para o gatinho!

Adorei a narrativa, sempre digo isso, mas é mesmo verdade.

Essa comedia suave nas descrições dá uma pitadinha especial na leitura.

“O poste piscava de vez em sempre”

E poxa, enfrentar o perigo de ser retalhado por um rottweiler pra ouvir as histórias, parece eu matando aula pra ver um filme que me interessava kkkkkkkkkkkk

A curiosidade não matou o gato, bom, ao menos por hora hahaha

Parabéns.

Postado 03/12/20 22:59

As vezes certos riscos valem a tentativa. kkkk

Muito obrigado por conferir e dar sua opinião sincera.

Postado 30/04/21 21:16

Olha isso! Esse seu lado doce eu não conhecia...

Depois de tantos textos dignos da Academia da Carneficina, muito interessante encontrar uma obra como essa...

Mandou muito bem!

Obrigada por compartilhar conosco.

Postado 18/07/21 13:29 Editado 18/07/21 13:31

Caro Silva,

Muitos escritores conseguem transmitir seus sentimentos através dos seus textos. Creio que não conseguiria imaginar tamanha emoção por trás de cada linha se não fosse o seu comentário a respeito da sua elaboração.

A história cativa, cria-se um suspense que dá gosto de ler e ansiedade (no bom sentido) de terminá-lo.

Não sou nenhum mestre da literatura, pelo contrário, apenas um amador. Dito isso, gostaria de fazer uma pequena crítica ao senhor: não seja tão raso. Despeje suas emoções à medida do que lhe for confortável, pois apenas senti algo verdadeiramente forte após ler o seu comentário sobre o que o texto significiava. DERRAME EMOÇÕES, HOMEM!

... e descreva melhor o universo, pois a curiosidade que não matou o gato nessa história, acabou por me matar.