Desde o princípio da humanidade a ganância desbrava e engole mundos. Havia ao oeste do planeta um jovem explorador que vivia com a sede da descoberta e ansiava poder ver e conhecer tudo o que o ser humano era capaz de chegar perto. Seu nome era Ren, ele tinha longos cabelos lisos que estavam sempre presos no topo da cabeça e olhinhos puxados.
Um belo dia, Ren ouviu a lenda do Polvo de Ouro, uma criatura que vivia no fundo dos oceanos, havia comido toda a riqueza do mar e usava sua bela pele dourada para atrair os navegantes que se chocavam com tamanho brilho de ouro. Qualquer pessoa capaz de matar a gigante criatura, a veria se transformar em todo valor que havia comido, logo, seria a pessoa mais rica de todo o mundo.
O jovem explorador então partiu em busca de sua fama e fortuna. Navegou tanto que já não fazia mais ideia de onde estava, sua pele já estava queimada de sol, a água e a comida estavam escassas e a tripulação estava começando a desistir da ideia de encontrar o grande Polvo de Ouro.
– Não desistam, marujos! Sinto que estamos perto de nosso objetivo e prometo-lhes: seremos os homens mais ricos do oriente ao nascer do sol! – disse o garoto buscando entusiasmo no fundo de sua alma esperançosa.
Ele havia pensado em tudo, preparou grandes lanças e arpões que, se mirados na direção certa, eram fortes o suficiente para matar qualquer criatura existente. Katsuo, um velho guerreiro com uma cicatriz que ia do topo de sua sobrancelha até a boca, possuía total domínio da arma e estava pronto para sua fortuna. De acordo com ele, seu avô havia navegado por águas tão desconhecidas que morrera enfrentando o Kraken, lutar contra seres do oceano era um negócio da família.
Ren estava cansado da longa jornada e pegou no sono sentado próximo à proa do navio. Acordou sentindo algo molenga e pesado se arrastando por cima de sua perna, se assustando ao ver a reluzente pele de um dos tentáculos gigantes do Polvo de Ouro. Gritou por Katsuo que logo se posicionou e acertou uma das grandes lanças no bicho, que aparentou ficar furioso e passou a se mover com mais violência conforme as armas eram lançadas. Entanto, somente os tentáculos eram machucados, para matá-lo, Ren sabia que precisaria lhe acertar a cabeça.
Destemido e determinado, pegou uma grande estaca e correu até uma das bordas do navio, se impressionando com tamanho brilho amarelo que saía da água. A luz dourada era suficiente para que ele conseguisse ver o formato da criatura através da água cristalina e por um momento achou que não conseguiria completar sua jornada. Respirou fundo e pensou no futuro que teria após a conquista, pulou na água e nadou o mais rápido que conseguiu até encarar um dos grandes olhos vermelhos e perfurou o animal.
Enquanto Ren seguia em sua aventura dentro da água, Katsuo moveu o arpão para a proa e o posicionou com a mira na cabeça do grande polvo, que estava cada vez mais furioso. Conseguiu após algumas tentativas dar o golpe certeiro, vendo que aos poucos os tentáculos foram voltando lentamente para dentro da água onde Ren se encontrava animado após voltar para a superfície para pegar fôlego.
A lenda se concretizou e o animal passou a se transformar em riquezas como mágica pura. Ren se desesperou ao ver que todo o ouro estava retornando ao fundo do mar e passou a tentar pegar o máximo que conseguia, em vão.
Quando notou a demora do amigo e que o ouro todo havia desaparecido, a tripulação começou a reclamar e Katsuo pulou na água com os nervos a flor da pele. Ao nadar um pouco mais fundo, viu que Ren afundava com os olhos abertos e opacos, os bolsos cheios de moedas e pedras preciosas e todo o ouro que já não brilhava tanto como antes atrás de si. Conforme ele emergia e os itens afundavam, conseguiu enxergar que as riquezas afundavam ainda com o formado do grande Polvo de Ouro e Ren afundava no meio de sua cabeça, como se a criatura mesmo que morta, havia conseguido a vitória de engolir o jovem aventureiro.