Certa noite sonhei com você, um sonho estranho onde havia um piso de caquinhos iguaizinhos aos da casa de meu avô.
Você estava lindo, seu sorriso maravilhoso, seu cabelo perfeitamente arrumado, onde os primeiros fios de prata luziam.
Não me lembro mais do que você me disse, lembro-me de que você estava do lado de fora da janela.
No quintal uma bicicleta, iria você embora?!
Creio que mais fácil seria eu pegar a bicicleta e partir, pois para mim é impossível imaginar você tão digno, tão culto e tão nobre numa simples bicicleta...
Muitos anos se passaram e você continua muito digno no seu canto, firme como rocha, indiferente ao meu pranto ou canto.
Bem verdade, eu é que, com ou sem bicicleta me fui, mudei, voltei, vivi tantas boas experiências, mas longe do seu olhar e da sua presença.
Tentei manter os laços, queria os quentes abraços que nunca experimentei.
Todavia, a vida é feita de cacos, cacos das frustrações e decepções que carregamos!
Tal como o piso de caquinhos da casa de meu avô que resistiu a anos de interpéries e rijos ventos, aqui vou eu resistindo e indo firme no meu caminho, com ou sem você.
O cimento do qual fui moldada é capaz de conter todos os caquinhos que a vida me deu e mesmo assim ser belo e singelo, sendo o sustento dos meus.