Era mais um domingo santo, o dia da semana escolhido para a purificação de minha insanta alma.
As pontas de meus dedos se enrijeciam e cada teclada se tornava dolorosa. Aquele conhecido sentimento se apoderava lentamente de meu ser, mas decidi não dar confiança. Precisava terminar ainda hoje.
No entanto, conforme protelava, mais aquele sentimento tomava cada parte de meu corpo. A tal enfermidade que jurava conseguir esconder estava prestes a aparecer. Quando meus olhos começaram a desfocar e embaçar percebi que fui imprudente em ignorar os sinais.
Eu preciso terminar... Eu preciso da cura... Já insanamente preocupada, corro até a cozinha e abro o armário na esperança de encontrar a cura... Só para ver o pote transparente vazio.
- Não...por favor...não…
Meu cérebro começou a buscar outras alternativas, mas já era meio tarde.
Mate.
Meu corpo tremia e começava a me engasgar na própria saliva.
Mate.
Torci para que ninguém aparecesse e visse o meu estado. Não era mais eu quem controlava meu corpo e receava machucar mais alguém.
Mate.
Passos...Uma figura esbelta surge ao meu lado e distraída começa a fazer seu lanche noturno.
- Acabou o café? - Perguntei com dificuldade.
- Sim... - Respondeu indiferente.
Um silêncio se instaurou na cozinha. Aproveitei o mesmo para dar longas respiradas.
- O que você quer? - a figura ainda desatenta questionou sem preocupação.
Mate.
- Chá…
- Qual chá?
A enrolação daquele ser aumentava ainda mais o meu estado deplorável e sem perceber a faca já estava em minhas mãos.
Mate.
Rasguei a superfície
Larguei o corpo que segurava e o mesmo caiu no chão inato.
Peguei o líquido grosso e coloquei em minha xícara preferida.
Depositei água quente e em um movimento rápido bebi seu conteúdo.
- Não há nada melhor que mate quente.