Todos os dias sumo um pouco mais dentro de mim.
Desapareço,
Adormeço…
Como num passe de mágica,
Como se não existisse mais nada…
Sou somente um eco do que um dia fui. Uma voz pequenina, que sussurra no fundo da alma todas as memórias dolorosas vividas em uma tentativa de mantê-las aquecidas no que resta de minha vida. Eu as abraço com tamanha força que o oxigênio ao redor queima em um desesperado ato de não deixá-las desaparecer, pois elas são o fino fio que me ligam à humanidade que ainda vaga em meu coração.
Esqueço,
Esmoreço…
Em lágrimas de fogo,
Enquanto, sutilmente, morro…
Os meus pulmões possuem ar, mas não respiro. Os meus olhos veem, mas não enxergo. O meu corpo se mexe, mas não sou dona de minhas ações. Eu amo, mas não consigo demonstrar. Eu vivo, mas não carrego nada além de morte. Aos poucos, a dor me tornou uma espectadora da minha própria vida. Como uma mera convidada, vejo a morte se tornar proprietária de meu âmago. Essa dor mortal que não me deixa morrer, mas que suga qualquer partícula de vida que passeia pelo meu coração, é como ser a vítima e o carrasco, ao mesmo tempo.
Quero tanto lutar,
Mas não consigo.
Quero tanto gritar,
Mas não consigo.
Quero tanto viver,
Mas não consigo.
As palavras me abandonaram. Me restam somente as fagulhas dos significados do que um dia elas foram… do que um dia eu fui. Criei tantas histórias para ser e(terna), mas tudo o que consegui foi eternizar imensos fragmentos dessa dor que me consome sem me matar.
Desapareço,
Esqueço…
O que era mesmo que eu disse que fui?
Já não me lembro…
Olha, a janela… São duas da tarde…
Olha, a noite… São 2 da manhã?
Desapareço…
Adormeço…
Pois só assim eu me esqueço
Da dor gritante em meu peito…
Eu sou
o eterno
eco
poético
Bem
aqui,
Nestes
versos.