Quando nos vimos pela primeira vez, eu não achei que chegaríamos onde chegamos. Quem diria que os olhares doces, as palavras carinhosas e os toques quentes, sempre calmos no início até me fazerem gritar por mais, eram só uma mentira? Quem veria isso chegando?
Não, eu sempre fui positiva. Sempre olhei as coisas dos melhores ângulos e você… Você dizia que era o que mais amava em mim, certo? Você e seus sorrisos largos, olhos amendoados e perfume de sândalo. Você andava por aí todo charmoso, quase dançando, como se o mundo fosse seu. E era. Eu era.
Então, quando você levantou a mão pra mim pela primeira vez, não pude acreditar. Não queria. Você era o homem perfeito, um cavalheiro que iria me salvar da vida tediosa que me aguardava pela frente; estávamos destinados a ficar juntos. Coisa de filme de Hollywood. Então, não, não podia ser. Não era possível.
Mas foi. Você fez tudo isso e muito mais. Os roxos no meu braço já sumiram, mas nunca vou esquecer da dor quando você me empurrou até a parede; era um predador, olhando a presa nos olhos. Você me fez sentir como se eu não fosse nada, como se eu não merecesse algo de bom; eu era um monstro por respirar, por querer o melhor pra nós dois. Por um tempo, quase acreditei, mas minha amigas estavam certas: Você era o monstro ali, alguém que tinha ousado profanar algo tão puro como o que nós tínhamos. Você não me merecia; era defeituoso. Vazio.
E daí que eu matei sua ex? E te amarrei no sótão? Agora você não pode mais ameaçar chamar a polícia, com seus vídeos sem sentido, “provas” inúteis; elas só mostravam o quanto eu te amava. Agora, seu celular se encontra no fundo de um rio, e o corpo que eu tanto amava admirar se dissolveu bem rápido na banheira de um motel qualquer.
Quando abro a geladeira, no entanto, seu rosto ainda me encara sorridente do freezer. Imaculado, apesar de tudo. Fiz questão de limpá-lo e eternizá-lo e, devo dizer: o post-mortem lhe caiu bem como uma luva.