Essa dor em meu peito
Transborda sempre do mesmo jeito:
Pelos profundos cortes horizontais
Que um dia serão verticais.
e eu queria muito poder mudar tudo
mas quanto mais luto,
menos força tenho.
Me sinto imunda com essas cicatrizes
Que em mim formaram raízes,
Como se meu desprezível corpo
Fosse uma árvore sem topo.
As vozes em minha mente gritam em meu coração
E ele se encolhe de medo com o barulho,
Porque sabe que elas dizem mentiras mortais,
Mas que são a minha única salvação
Para sair desse escuro
Composto de dores tão reais.
e eu queria muito me prender ao futuro,
mas nem o presente enxergo
pois meu âmago já está cego.
As lágrimas queimam meus olhos,
Porque já me afogaram por dentro
Em todas as minhas vãs tentativas
De me sentir viva.
Senti amor e colhi medo,
Plantei esperança e colhi angústia
Fantasiei sonhos para viver pesadelos...
É por isso que preciso ir embora desta vida cedo,
Porque em mim só existe
Essa tristeza que escorre por meus dedos…
Quantos remédios serão necessários
Para curar essa dor impenetrável?
Quantos minutos embaixo da água
Poderiam afogar inteiramente minhas mágoas?
Quantos cortes precisarei fazer
Para, finalmente, desaparecer?