Um dia, já me alimentei bem. Porém, depois que você se foi, meu coração se despedaçou e, com isso, todo alimento perdeu o sabor, a vida perdeu cor. A única coisa que me nutria eram os poucos pedaços do seu coração que ficaram para trás. Ardia a boca, rasgava minha língua e cortava a garganta, mas o gosto era pura nostalgia. Tinha gosto de você.
Com o passar dos dias, me alimentei de olhares, esses que eu lançava à você. Era dolorido, doía, perfurava-me a alma, furava-me os olhos.
Busquei matar minha sede, já que toda essa comida secava-me a garganta. Embebedei-me do seu sorriso, que um dia foi direcionado a mim. Pensei que seria limpo e puro como a água, gelada e gostosa. Mas me enganei, foi como saborear o rio flegetonte, puro fogo. Desceu fervendo, quente e borbulhante. Mas era bom. Tinha gosto de você.
Era tarde demais quando percebi que já não me lembrava mais do teu gosto, apenas me contentava com os resquícios de memória que você deixou. E se deixou algo tão amargo... quão bom você foi pra mim?