Já era noite quando ouvi aquela voz pela primeira vez. Eu estava seguindo meu caminho para casa quando ouvi alguém pedir desesperadamente por ajuda. Confesso que pensei em ignorar, mas a voz feminina me fez desistir dessa ideia e ir ver o que estava acontecendo. A cada passo que eu dava, o caminho ficava mais escuro e a voz mais clara. Eu não sabia para onde estava indo, estava sendo guiado por instintos.
Cheguei ao final de um beco e pude avistar uma porta velha de madeira, a voz só poderia está vindo de lá. Antes mesmo que eu pudesse me aproximar mais, a porta se abriu. Pude avistar algumas velas pelo chão, uma cortina negra com um desenho estranho em vermelho e a dona daquela voz que me enfeitiçou. Ela estava deitada ao lado das velas e me parecia muito machucada.
— Por favor, me ajude. Eles tentaram me matar, me destruir. Eu consegui escapar, mas não consigo me levantar.
Tão frágil. Não pensei, apenas agi. Fui até onde ela estava deitada e a coloquei em meus braços.
Nunca fui igual aquelas pessoas que acreditam em amor à primeira vista, mas assim que vi aquele rosto angelical, eu sabia que era isso. Poderia não ser a melhor hora, mas eu poderia declarar aos quatro cantos do mundo que havia me apaixonado, ali e agora.
Com o corpo dela desmaiado em meus braços, eu fiz uma promessa silenciosa. Todos aqueles que ousaram encostar um dedo na minha deusa de olhos amendoados iriam sofrer. Eu estava furioso e nem sabia o motivo.
Naquela noite eu sabia que a porta pela qual entrei havia se fechado e que a chave não existia mais. Ela foi destruída junto com minha alma, mas o amor que sinto ainda está aqui. Por ele eu posso suportar qualquer coisa.