Zeloso
6 de Janeiro
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 22/10/20 16:46
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 9min a 12min
Apreciadores: 2
Comentários: 2
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Palavras: 1548
Não recomendado para menores de dezesseis anos
Notas de Cabeçalho

Texto em Homenagem à Nossa Primeiríssima Anja da Morte e Ternura, Sabrina Tortura. Parabéns, por desbravar cada vez mais, nosso misterioso Antro!

Capítulo Único Zeloso

A pequenina Sabrina, de apenas sete anos batucava pelas paredes e saía causando terremotos pela casa, com duas chiquinhas na cabeça e uma voz fina que ensurdece qualquer ser humano. Seus pais já não aguentavam mais tanto barulho, já era quase meia noite e a menina não parava quieta.

Por fim, sua mãe que já tropeçava nas próprias olheiras, pegou a menina pelo pulso seriamente e a levou até o quarto, colocando-a na cama e a cobrindo com duas cobertas pesadas, disse:

- É quase meia noite, Sabrina! Sabe o que acontece quando dá meia noite e ainda tem criança acordada? - a mãe disse num tom preocupante.

Sabrininha compreendeu a urgência nos olhos cansados da mãe, então começou a sussurrar:

- O que acontece mamãe? - a menina tremeu embaixo das cobertas.

A mãe, olhou de um lado para o outro, levantou-se rapidamente e trancou a porta, aproximando-se do rostinho da criança, ela afirmou:

- Monstros... Monstros que comem crianças. Se eles acharem alguma criança acordada, comem ela! E você sabe como fazer então, para não ser comida pelo Monstro?

- D-d-dormindo? - a menina arriscou.

- Isso! Dormindo!

- E se eu não conseguir dormir, mamãe? - Sabrininha ameaçou chorar de medo.

- Ore para o anjo da guarda, e não saia da cama!

- Mas e você e o papai? O Monstro vai pegar vocês! - a menina atônita abraçou a mãe fortemente e realmente preocupada.

A mulher sorriu.

- Meu amor, esses monstros tem medo de nós, o papai e eu vamos ficar vigiando a casa! Mas durma, durma rapidinho, feche os olhinhos... Isso... Agora reze, meu amor. Vamos lá...

- Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, pois que a ti me confiou a piedade divina, hoje e sempre me governa, rege, guarda e ilumine. Amém! - a menina rezou com sinceridade e deu um grito no final com o "amém", pois sentia que assim, a oração chegaria mais rápido aos ouvidos celestiais.

A mãe, orgulhosa da pequena e feliz por sua história de terror com moral religiosa ter dado certo, saiu a passos leves do quarto, apagou a luz e desejou boa noite, deixando a pequena ali, sozinha no escuro.

Cada sombra de repente, se tornava um mosntro. O guarda-roupas, os brinquedos, os espelhos, os penduricalhos... Tudo aterrorizante! Sabrininha sentiu seu coração gritar dentro do peito, mas ela precisava dormir URGENTEMENTE...Senão ele viria... O que será que o monstro faria a ela???

Não conseguia parar de pensar em tudo, quando uma visão horrorosa brotava no escuro, ela cravava as pálpebras nas bochechas e rezava com cada vez mais barulho e força, rezava tão alto que realmente despertou um ser misterioso, que por não conseguir dormir, também, teve de ir até aquela casa barulhenta dos infernos!

O Anjo de pele negra e roupa de ouro, sobrevoou a casa, naquele bairro comum da cidade, estacionou seus pés celestiais no quintal e atravessou as paredes como um fantasma... Quem estava o chamando a esta hora? Deus tenha misericórdia... Mas então, quando atravessou a parede do quarto da menina, a flagrou rezando, chorando, tremendo em pânico, com medo de cada canto do quarto escuro, de cada imagem diabólica que sua mente infante criara a partir das peripécias maquiavélicas da própria mãe.

O ser celeste apenas observou a menina de cima, que urinou-se toda de pavor quando percebeu uma aura diferente no quarto.

Apavorada, pensando ser o monstro, ela pôs-se a berrar:

- SANTO ANJO DO SENHOR!!! MEU ZELOSO GUARDADOR!!! - berrava tanto que pelo menos oitenta dúzias de anjos pensaram em sobrevoar a casa, no momento, mas logo perceberam, que de fato, um anjo há havia pego o caso para si.

No entanto, o anjo vestido de ouro, não sabia o que fazer. Se tocasse na menina, ou falasse com ela, talvez la gritasse ainda mais! Ele era novo no ramo...

Do que será que ela estava com medo?

Ele averiguou a casa... Não, nenhum espírito maligno... Hmmm, não... Nenhum monstro embaixo da cama, nenhum inseto, bicho peludo ou barulho... O que raios esta menina tinha?

- HOJE E SEMPRE ME GOVERNA, GUARDA E ILUMINE, AMÉM!!! POR FAVOR ANJO!!! - a menina continuava implorando, aos suluços, morta de medo de ver uma aberração assim que abrisse os olhos.

Com sua aura de ternura, o anjo respirou fundo e tocou no ombro da menina.

- Pronto criança... Estou aqui, não tenha mais medo... - assim que a menina abriu os olhos e viu aquela coisona iluminada sobre ela, desmaiou por um instante.

"Ossos do Ofício..." - pensou o anjo.

Mas o que estaria causando medo na criança?

Aquilo ainda batutava na cabeça angelical.

- Anjo?! - a menina por fim acordou, reconheceu seu salvador.

- Sim... Criança...

- Tem um monstro! Ele vai vir me pegar e eu não consigo dormir! - a menina se aconchegou por fim, ao colo cândido.

- Eu vou encontrá-lo, doce criança. Deus te abençoe...

- Promete? - ela sorriu com suas janelinhas de dente.

- Sim! - o anjo arregaçou as mangas e amarrou sua toga, de forma que se parecesse com um tipo de calça, com rodopios e vozes celestiais, tirou de dentro de sua garganta uma longa e afiada espada de dois gumes, também banhada a ouro.

Empunhou sua espada, desenhando golpes estratégicos no ar.

A criança mal podia crer... Seria um sonho? O anjo não era um bundão como ela havia pensado, o anjo era um ninja!

- Uau... - ela ficou boquiaberta.

- Como você pensou que os anjos zelosos faziam o trabalho? Apenas te fazendo dormir? Não, não pequena Sabrina... Nós fazemos o serviço completo! - o anjo com voz grossa e calma como um samurai, afirmou enquanto cerrava suas longas sobrancelhas.

- Eu vou ficar de guarda, até você dormir! - o anjo se prontificou, ficou imóvel igual aos guardas da rainha.

E esperou...

Por ironia do destino, no meio da madrugada, quando todos, inclusive a menina já dormiam profundamente, o anjo escutou um barulho no telhado. Eram ladrões.

Num piscar de olhos, com alguns tiros na maçaneta, os humanos não tiveram tempo para correr, logo estavam sendo feitos de refém, ajoelhados na sala, enquanto a menina, parecia estar invisível aos olhos dos malfeitores.

"Caramba! Minha deixa!" - o anjo derrubou a porta com um chute, fazendo jorrar um barulho de trovão. A situação ficou tão caótica, que os reféns não sabiam de quem deveriam ter medo: dos assaltantes ou daquele ser de roupas preciosas.

Com um giro leve e um rápido jogo de mãos, o anjo zeloso passou a espada no pescoço dos três assaltantes. Sangue jorrou pelas paredes pintando tudo de vermelho, os corpos decepados ainda tremellicavam no chão, jorrando um sangue escuro. Não contente, o anjo picotou os monstros com quatro golpes de espada em cada um, vísceras, gordura, bile, tudo no chão, no tapete, nos armários, na televisão, no retrato de família... Ao final de sua cena, os humanos adultos já haviam desmaiado, ao lado de poças de vômito esverdeado.

- Monstros cruéis, eu os selo nesta forma e os desconjuro, que ardam no mármore infernal pelo resto da eternidade! - glorioso, o anjo enfincou sua espada no chão, e do piso luzes flamejantes surgiram, grandiosas línguas peludas abriram caminho, devorando os corpos. Assim que a última gota de sangue foi lambida da casa, o portal dos infernos se fechou.

Ainda banhado em uma mistura de sangue e ouro, o anjo chacoalhou suas asas que inflaram e alinharam-se pouco a pouco. Suas garras e sua carranja aos poucos também se desfizeram, gentilmente, ele derramou lágrimas douradas por sobre as lâminas da espada, e esta também se purificou.

Ele gentilmente caminhou até os adultos desmaiados, e deixando mais lágrimas porpurinadas caírem sobre suas cabeças, ele apagou-lhes as memórias e já estava pronto para ir, fez que ia decolar, quando sente um puxão em sua toga...

- Ei... - a menina o chamou.

Oh não... Ele se esqueceu da menina.

- Também quero ser um anjo ninja! - ela encenou um golpe no ar.

O anjo se exasperou.

- V-você viu tudo...?

Ela fez que sim com a cabeça, ainda sorridente.

- E... Não ficou com medo?

- Foi irado! Eu vou escrever sobre isso no jornal da escola...! - ela pulava de emoção.

- Jornal..?

Ela era uma criança peculiar... O anjo olhou bem no fundo de seus olhinhos de petróleo e então, pôde ver o futuro que era reservado para a menina... Tortura... Massacre... Medo... Terror... Mas calma... Ela nada sofreria, ela que seria a causadora disto tudo... Anos mais tarde, ficaria conhecida como Sabrina Tortura, o anjo estremeceu, de por fim, saber os porquês.

Deu mais uma boa olhada na menininha inocente...

O Anjo Zeloso, enfiou seus longos dedos negros dentro de um bolso na toga e de lá, tirou um cartãozinho flutuante. Presenteou a menina com ele.

- Quando for a hora, te recrutarão para ser uma de nós, mas até lá, Sabrina... Por favor, cuidado com as facas. - o anjo deu batidinhas leves na cabeça da criança, que saltitante, voltou para a cama e foi dormir feliz, sonhar com os anjos...

Quando chegou no céu, contou toda a história para seus colegas.

- Juro, ela não ficou nem um pouco com medo! Deus do Céu... Ela é a primeira humana a presenciar como os Anjos da Guarda de fato trabalham!

- O que vamos fazer com ela? Você não apagou a memória?

- Não... Todas as criaturas de Deus são criadas para um propósito maior... - Zeloso, colocou a mão no coração - Quando não pode-se evitar o mal, devemos usar ele a nosso favor...

❖❖❖
Notas de Rodapé

Espero que os católicos não tenham se ofendido...

E Brina, espero que tenha gostado! <3

Apreciadores (2)
Comentários (2)
Postado 22/10/20 17:46

A cada texto seu meu queixo cai <3

Por favor, me diz que vai ter alguma continuação!!! ESSE FINAL ME RENDEU BERROS!

Postado 23/10/20 17:41 Editado 23/10/20 17:42

Ah, 6, seu coração é imenso. Fico muito feliz em ter te encontrado neste antro maldito, como um anjo da guarda que gosta de ouvir Aurora e mandar áudio falando aleatoriamente NHOC NHOC. Sua presença e escrita são pura luz.

A narrativa dessa obra é tão bem desenvolvida que o leitor se sente como um anjo que sobrevoa a casa, tentando entender os mistérios que estão a ocorrer. A Sabrina da obra é tão meiga e animadinha, me lembrou muito de mim mesma na infância, correndo pela casa sem querer dormir kkkkkk. O final é completamente surpreendente e faz com que o leitor fique com um gostinho de quero mais! Gostei muito como você balanceou a imagem da inocência do presente em uma possível maldade no futuro.

Obrigada por essa obra. Guardarei ela em meu coração sempre e sempre! Você é um amorzinho!

​Parabéns, 6 ♥

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