Vocês me queimaram
Por meus supostos pactos com o Diabo.
Vocês me acorrentaram
Por não possuírem um deus compacto.
Queimem a bruxa!
Esquartejem a imunda!
Os gritos daquele dia mortal
Ainda ecoam em meus ouvidos.
Fui acusada de ser anormal
Simplesmente por curar os feridos.
Ela não vai para o céu.
Ela jamais atravessará o véu.
Aos quinze anos
Conheci a maldade de uma vida inteira.
Se o céu é formado de anjos desumanos
Jamais atravessarei a fronteira.
Ela é bruxa! Deu uma poção para o meu filho!
Ela é feiticeira! Tirou de mim o marido!
As acusações intermináveis
Vindo de cidadãos incansáveis
Levaram meu corpo para a fogueira
E para o inferno, a minha alma.
Matem-na queimada!
Deixem-na intimidada!
Entre a justiça humana e a vida
Escolho morrer nas chamas do silêncio,
Onde a fuligem é minha amiga
E meu corpo um verdadeiro incêndio.
Vocês me queimaram,
Mas nunca me mataram.
Nem bruxa
Ou feiticeira,
Apenas uma simples curandeira
Morta em uma fogueira.