Lá estava a mamãe, todos aqueles sorrisos e doçuras sumiram quando ela descobriu que aqueles três sabiam.
Era um custo fingir ser uma boa mamãe, presente, amiga, amável e acolhedora, sendo que nada mais era do que uma boiadeira que cuidava do gado para o abate...
E por quê aceitara àquilo? Por que se prestara àquele papel?
Na época só queria escapar da morte, queria viver, queria mais alguns dias... A ideia de se ver dilacerada por aqueles seres terríveis a amedrontava! Ainda podia lembrar quando descobriu tudo...
Seu amigo, irmão, no chão, inerte, sem uma gota de sangue, olhos estatelados, gélido, cinza, frio, frio como foi a alma de Isabela daquele dia em diante...
Se esforçou, venceu um a um cada teste, foi irmã e chegara a mamãe, mamãe da maior fazenda de todas. Era admirada, respeitada e amada pelo seu gado, gado fino, de alta qualidade.
Tinha dias que se esquecia e se sentia realmente como a mamãe daquelas crianças tão lindas... Contudo, durante a noite, no escuro do seu quarto lembrava das coisas horríveis das quais era cúmplice, crianças criadas para ser carne, nada mais que isso. Sem direito, sem escolha, sem saída e ela para viver, perdeu a alegria da vida, vendera sua alma aqueles monstros.
Mas agora todo o peso dos anos, toda a culpa caía sobre os ombros de Isabela.
Sentiu toda sua culpa quando descobriu que Ray era seu filho, sentiu todo peso da culpa ao ver que traíra a si mesma e à sua semente...
É já tinha vivido tempo demais e nessa ânsia de viver um pouco mais se traíra, traíra sua humanidade...
Agora a cada noite peso, tristeza, remorso, cada riso e carinho fingido eram setas sob seu coração, pois sabia que eles sabiam!
A máscara caíra e com ela seu desejo de viver...
Já traíra, já mentira, já sofrera e já vivera tempo demais...