CENA 1 – QUARTO DA PRINCESA
A Princesa está deitada nua, de costas para a janela aberta.
O Homem entra como uma sombra sorrateira deslizando pelo vento, esgueirando-se janela a dentro. Ele está inteiro vestido de preto.
Aproxima-se devagar da Princesa, e toca-lhe o ombro nu com a ponta de seus dedos encobertos pela luva.
A Princesa estremece e vira-se em direção ao Homem.
PRINCESA: Meu amor, estou cada vez mais fraca...
HOMEM: Vou dar um jeito de te tirar do castelo. Não se preocupe, meu bem.
PRINCESA: Os guardas nunca me deixarão sair com vida... Eu te amo tanto... Por que não me tira daqui com seus poderes? Não quero ficar presa aqui dentro para sempre...
HOMEM: Meu bem, não posso usar meus poderes, você não aguentaria viajar nas sombras, morreria de exaustão.
PRINCESA: Eu não ligo de morrer... contanto que seja fora daqui... contanto que seja em seus braços... meu amor...
O Homem deita-se ao lado da Princesa, beijando-a afetuosamente.
CENA 2 – QUARTO DO REI
O Rei anda em círculos em seus aposentos.
Um soldado bate à porta.
REI: Pode entrar.
SOLDADO 1: Senhor, nossos guardas têm certeza que o homem entrou nos aposentos da Princesa.
REI: Então, mandem invadir.
SOLDADO 1: E com a Princesa, o que faremos?
REI: Ela já está moribunda, não me importa que minha filha morra, contanto que aquele maldito não tente prejudicar a honra de nossa dinastia. Prefiro minha filha morta, do que fugida com um porco imundo, sem eira nem beira.
SOLDADO 1: Sim, senhor. Irei dar ordens para todos os soldados se prepararem para matar.
CENA 3 – QUARTO DA PRINCESA
O casal está se beijando avidamente. As pernas da Princesa estão ao redor do Homem.
PRINCESA: Eu estou decidida, meu amor, quero morrer... Meu pai não liga para minha vida... Ele prefere a honra do que a minha felicidade... E por causa de meu corpo fraco, não conseguirei fugir contigo... pelo menos não com vida...
O Homem tenta disfarçar suas lágrimas. Então vai se abaixando e beijando todo o corpo de sua amada. Beija-lhe longa e demoradamente em sua intimidade, ouvindo os sons de seus suspiros e gemidos, até senti-la se desmanchando de prazer em sua boca.
CENA 4 – CORREDORES
SOLDADO 1: A ordem é para matar!
SOLDADO 2: Até mesmo a Princesa?
SOLDADO 1: A ordem é para não sobrar ninguém vivo. Depois o Rei colocará a culpa no Homem pela morte de sua filha.
SOLDADO 3: Essa dinastia é podre...
SOLDADO 1: Cuidado com o que diz.
SOLDADO 2: Mas ele está certo...
Soldado 1 olha furioso para seus dois colegas, e então crava sua espada no coração do Soldado 2, logo em seguida degolando o Soldado 3.
Todos os soldados presentes fingem não ligar para a cena, desviando os olhos.
SOLDADO 1: Isso é para todos vocês aprenderem, que quem dá as ordens é o Rei, e nós não devemos questionar.
CENA 5 – QUARTO DA PRINCESA
Os dois apaixonados começam a ouvir batidas na porta. Os soldados estão tentando arrombá-la.
A Princesa enrola o lençol no corpo, o improvisando como vestido.
PRINCESA: EU NÃO TENHO MEDO DA MORTE!
A porta cede e os soldados vão entrando.
A Princesa corre com seu amado até a janela.
SOLDADO 1: Vocês não terão escapatória.
PRINCESA: Tenho escapatória sim. Serei livre na morte. E meu amado conseguirá fugir, poderá viver.
SOLDADO 1: Ninguém sobreviveria a uma queda dessas, e mesmo que sobrevivesse, temos um exército contra esse patife.
Todos os soldados riem, seus olhos cegados pela podridão da dinastia. Todos com sede de poder, sendo manipulados pelo Rei.
SOLDADO 1: ATACAR!
O Homem então sobe no parapeito da janela, com sua amada em seus braços.
HOMEM: Você está pronta, meu bem?
PRINCESA: Sim, meu amor... quero morrer nas sombras, junto contigo.
HOMEM: Então venha, minha querida, dançar com o demônio sob a luz do luar.
E assim, o Homem concentrou todas as suas forças nas trevas ali presentes. Ele tinha poderes para viajar dentro das sombras de forma segura, mas decidiu que também iria se sacrificar, pois ele queria morrer junto de sua amada.
Então, usou seus poderes para flutuar com a ajuda das sombras, e foram subindo em direção das nuvens, como se estivessem dançando sob a luz do luar.
O frágil corpo da Princesa começou a se desfazer ainda nos braços de seu amado, transformando-se em um misto de gosma derretida e sangue purulento.
E então, após já estar sozinho, abraçando apenas ao lençol que a cobria, agora encharcado de suas lágrimas pesarosas, ele próprio começou a borbulhar em fogo que o explodia de dentro para fora, dilacerando suas vísceras, sua carne, e até mesmo sua alma.
Ali morria o último dos Anjos das Trevas, em um sacrifício de amor.
As sombras explodiram e lançaram os restos mortais dos apaixonados em uma chuva de gosta fétida, sangue podre, e fogo, que caiu por cima dos soldados que estavam com seus rostos desfigurados de incredulidade e medo, nenhum deles conseguindo entender como um simples homem humano poderia realizar tal ato...
CENA 6 – TRONO
O Rei está sentado em seu trono, sorrindo o seu sorriso mais podre e hipócrita, igual a sua dinastia.
REI: Princesa nojenta, teve o que mereceu por querer desmerecer a honra de nossa família. Meu filho sim, agora poderá ser o Príncipe Herdeiro e continuar minha linhagem, sem ninguém para nos atrapalhar.
FIM