Havia um casal, que se amava da profundidade dos oceanos às altitudes do céu. Ele possuía fogo e trevas, e ela possuía enormes e doces mistérios a desvendar. O que os fez se apaixonarem, foram as letras, as palavras, os sentimentos e sensações que doces poesias macabras, proporcionavam.
Uma distância encapelada, os afastava do alcance dos lábios e das mãos, eram quilômetros de lonjura, que separavam aqueles apaixonados corações.
A moça foi falar com uma bruxa, que fez para ela uma poção, para que nunca mais os dois amantes, pudessem se distanciar; a mulher disse que ao tomar do conteúdo do frasco, a garota deveria pegar seu sentimento mais profundo e converter em emoção... Foi-se rápido para sua casa, trancou-se no quarto e ali ficou, observando seu destino engarrafado... Pensou nas mãos do amado, andando por suas costas, pensou nos doces e malditos lábios, imaginou o tanto de lágrimas que brotariam de seus olhos quando finalmente o visse... Lágrimas felizes por deixar que ele temperasse os dias.
Sem mais delongas, trajando suas mais puras intenções, a moça num só gole, mandou o conteúdo do frasco para dentro da garganta, que quente desceu queimando... Amor, fogo, desejo, paixão, ardor, ternura, poder...
A poção fez os pensamentos dela borbulharem de tal forma, que chegou a desmaiar, em sua cabeça, o nome dele saracuteava, planava, inflava, deixando-a sem ar.
Quando abriu seus doces olhos, ela estava em um local diferente. Um teto diferente, cores diferentes no quarto, a luz estava diferente, não parecia mais estar no mesmo lugar.
Engatinhou tateando o piso, até que seus olhos chutaram um par de pés parados bem diante dela.
Calmamente ela olhou para cima, e elá estava ele, pintado de luz, cercado de amor. Seu amado, o diabinho mais lindo de toda a galáxia! Ele...
O homem, mal podia acreditar, sua doce amada bem ali em seu quarto... Como entrara? Por qual razão não havia avisado? Seria um sonho...?
"Meu amor..." - ela sussurrou, deixando com que escapasse uma lágrima.
"Você..." - o coração dele se encheu de ternura.
Eles queriam se abraçar, se beijar e colocar a casa ao chão com os possíveis barulhos do amor selvagem ao qual logo dariam vida, mas a emoção era tanta... Apenas se mantiveram como estátuas, apreciando os tons de pele de ambos, tão contrastantes, a textura dos cabelos...
Não sabiam no entanto, que a poção havia sido feita com um pouco de pressa... Havia um efeito colateral.
Quando ambos se abraçaram, uma eletricidade estupenda atingiu-os bem no peito, fazendo as carnes derreterem, assim como os cabelos, mas o amor era tão grande... Aquele sentimento... Aquele sentimento pelo qual aquelas duas malditas almas ansearam durante toda a vida... Não podiam se soltar, continuaram grudados, coração com coração, até o raio de eletricidade cessar.
O que restou desta magia infernal foi apenas um esqueleto trajando partes do traje inteiramente cor-de-rosa que a menina possuía, no entanto, por algum motivo hediondo, o esqueleto continuava vivo, o amor das almas, deu-lhe vida.
Finalmente, a moça misteriosa e o homem feito de trevas, podiam viver felizes, sendo parte de uma única coisa, um único amor e destino.
Pode se ver ainda, além das montanhas, se pararmos para perceber, um esqueleto encantado, sorrindo com sua fileira de dentes, trajando um tutu de balé e uma varinha mágica de mentirinha... O esqueleto dança e canta, ao mesmo tempo que uma risada doce e diabólica sai de suas caixas toráxicas vazias... Mal sabem os que dele fogem, que por dentro daqueles ossos velhos moram duas almas ternas, que deram a sorte do feitiço ter dado certo... De uma forma ou outra...