COMO ESCONDER UM ASSASSINATO?
É possível cometer um crime perfeito? No dia 10 de dezembro de 1987, o corpo de uma jovem secretária, não identificada, de 25 anos, é encontrado no porão da sua atual casa. A jovem se mudou para a pequena cidade há alguns meses, os vizinhos deram entrevistas alegando que a mesma era reclusa e vista apenas quando saia para o trabalho no escritório de um renomado advogado da cidade, às 8h30 e quando retornava às 17h00.
O corpo foi encontrado com lesões e dilacerações em toda a sua extensão, principalmente na região superior. O detetive do caso diz não ter conseguido registros para entrar em contato com familiares ou amigos próximos e não há arquivos da vítima nos dados de cidades vizinhas, tornando-se um empecilho para os investigadores do caso. Contudo, em decorrência da natureza do crime, julga-se ser de caráter pessoal por tamanha brutalidade.
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04/11/87
16h20
Jingle bells, jingle bells. Jingle all the way. A canção flui da minha mente para a boca enquanto desço aos degraus do porão inacabado do casebre. Isso me faz relembrar da lareira e dos presentes amontoados no pinheiro, enquanto nos reuníamos com toda a família. As tábuas podres rangem a cada passo, cuspo naquele local imundo. Então esse foi o melhor lugar que ela encontrou para morar? Está caindo aos pedaços.
Não foi difícil entrar aqui, a porta dos fundos estava mal trancada, apenas um empurrão e aqui estou eu. Para alguém que disse que eu não conseguiria acha-la, bem... ela conseguiu por alguns meses.
Ligo a luz fraca e opaca, observando cuidadosamente o cômodo e constato que terá que ser aqui, talvez demore a encontra-la ou não, mas isso não importa não me restam dúvidas que nunca me encontrarão. Retiro do casaco um bloco de notas com folhas desgastas e amareladas, mais um nome para a minha lista, ainda pequena, mas em construção.
Coloco a minha mochila em um bloco de concreto abandonado ao lado da escada, abro-a e apanho uma luva e alguns instrumentos cortantes que irei precisar. Ponho as luvas delicadamente, apenas para que eu não suje as minhas mãos, é impossível que eles encontrem algum registro da minha vinda aqui. Mais uma vez, contemplo o ambiente, esperando a minha presa chegar.
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COMO ESCONDER UM ASSASSINATO?
Algumas senhoras alegam ter notado que no dia 05 de dezembro, o provável dia após o infortúnio assassinato, a jovem secretária saiu de casa 15 minutos atrasada às 8h45, mas não perceberam nada anormal, a mesma cumprimentou a todos com o seu habitual sorriso e gentileza.
Porém, esse fato contraria a investigação da perícia forense que segundo laudo, afirma que a morte ocorreu na tarde data anterior, no dia 04 de dezembro, sendo assim era impossível que a jovem tivesse ido para o escritório. Outra prova que contraria a fala das testemunhas é a do renomado advogado que declarou a ausência da sua secretária no escritório no dia 05 de dezembro.
A convergência da fala das testemunhas torna a investigação dificultosa para a resolução do caso. Os depoimentos serão tomados a essa tarde, todas as pessoas que registaram ou perceberam algo incomum nas datas entre o dia 04 e 05 de dezembro são convocadas a aparecerem no gabinete dos investigadores, a partir das 14h00 para registro de depoimento.
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11/12/87
09h00
Adentro o banheiro com a luz fosca já ligada, o azulejo amarelado das paredes e do chão denuncia a ausência de higienização do local. Retiro o jornal escondido no vestido branco e o rasgo até ficar em pedaços, coloco no lixo e me recomponho. Olho o espelho com manchas escuras e observo a minha imagem. Os mesmos olhos, o corte do cabelo, a pele. Atrevo-me a sorrir como ela, um sorriso frágil e débil. Tive o cuidado de remover todas as poucas fotografias da casa e as trazer comigo, é impossível que encontrem fotos dela ou minha. Sem prova alguma. Se me perguntarem um dia se é possível cometer um crime perfeito, eu diria que sim. Mas tente ser cuidadoso. Escolha suas armas, não deixe vestígios e talvez o local não seja tão importante quanto você ser idêntico a sua vítima.
Ouço o meu nome ser chamado através da porta, estão me chamando para retornar à ala três da enfermaria psiquiátrica, antes de ir vejo novamente o meu reflexo e sorrio para a imagem do espelho, confundindo-me entre ela e eu.