Como esconder um assassinato
Victoria C
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 14/10/20 11:08
Editado: 30/08/21 09:26
Avaliação: 9.53
Tempo de Leitura: 4min a 6min
Apreciadores: 5
Comentários: 3
Total de Visualizações: 908
Usuários que Visualizaram: 10
Palavras: 734
Não recomendado para menores de dezoito anos

Esta obra participou do Evento Academia de Ouro 2020, indicada na categoria Mistério.
Para saber mais sobre o Evento e os ganhadores, acesse o tópico de Resultados.

Capítulo Único Como esconder um assassinato

COMO ESCONDER UM ASSASSINATO?

É possível cometer um crime perfeito? No dia 10 de dezembro de 1987, o corpo de uma jovem secretária, não identificada, de 25 anos, é encontrado no porão da sua atual casa. A jovem se mudou para a pequena cidade há alguns meses, os vizinhos deram entrevistas alegando que a mesma era reclusa e vista apenas quando saia para o trabalho no escritório de um renomado advogado da cidade, às 8h30 e quando retornava às 17h00.

O corpo foi encontrado com lesões e dilacerações em toda a sua extensão, principalmente na região superior. O detetive do caso diz não ter conseguido registros para entrar em contato com familiares ou amigos próximos e não há arquivos da vítima nos dados de cidades vizinhas, tornando-se um empecilho para os investigadores do caso. Contudo, em decorrência da natureza do crime, julga-se ser de caráter pessoal por tamanha brutalidade.

•••••••••••••••••••••••••••••••••••

04/11/87

16h20

Jingle bells, jingle bells. Jingle all the way. A canção flui da minha mente para a boca enquanto desço aos degraus do porão inacabado do casebre. Isso me faz relembrar da lareira e dos presentes amontoados no pinheiro, enquanto nos reuníamos com toda a família. As tábuas podres rangem a cada passo, cuspo naquele local imundo. Então esse foi o melhor lugar que ela encontrou para morar? Está caindo aos pedaços.

Não foi difícil entrar aqui, a porta dos fundos estava mal trancada, apenas um empurrão e aqui estou eu. Para alguém que disse que eu não conseguiria acha-la, bem... ela conseguiu por alguns meses.

Ligo a luz fraca e opaca, observando cuidadosamente o cômodo e constato que terá que ser aqui, talvez demore a encontra-la ou não, mas isso não importa não me restam dúvidas que nunca me encontrarão. Retiro do casaco um bloco de notas com folhas desgastas e amareladas, mais um nome para a minha lista, ainda pequena, mas em construção.

Coloco a minha mochila em um bloco de concreto abandonado ao lado da escada, abro-a e apanho uma luva e alguns instrumentos cortantes que irei precisar. Ponho as luvas delicadamente, apenas para que eu não suje as minhas mãos, é impossível que eles encontrem algum registro da minha vinda aqui. Mais uma vez, contemplo o ambiente, esperando a minha presa chegar.

•••••••••••••••••••••••••••••••••••

COMO ESCONDER UM ASSASSINATO?

Algumas senhoras alegam ter notado que no dia 05 de dezembro, o provável dia após o infortúnio assassinato, a jovem secretária saiu de casa 15 minutos atrasada às 8h45, mas não perceberam nada anormal, a mesma cumprimentou a todos com o seu habitual sorriso e gentileza.

Porém, esse fato contraria a investigação da perícia forense que segundo laudo, afirma que a morte ocorreu na tarde data anterior, no dia 04 de dezembro, sendo assim era impossível que a jovem tivesse ido para o escritório. Outra prova que contraria a fala das testemunhas é a do renomado advogado que declarou a ausência da sua secretária no escritório no dia 05 de dezembro.

A convergência da fala das testemunhas torna a investigação dificultosa para a resolução do caso. Os depoimentos serão tomados a essa tarde, todas as pessoas que registaram ou perceberam algo incomum nas datas entre o dia 04 e 05 de dezembro são convocadas a aparecerem no gabinete dos investigadores, a partir das 14h00 para registro de depoimento.

•••••••••••••••••••••••••••••••••••

11/12/87

09h00

Adentro o banheiro com a luz fosca já ligada, o azulejo amarelado das paredes e do chão denuncia a ausência de higienização do local. Retiro o jornal escondido no vestido branco e o rasgo até ficar em pedaços, coloco no lixo e me recomponho. Olho o espelho com manchas escuras e observo a minha imagem. Os mesmos olhos, o corte do cabelo, a pele. Atrevo-me a sorrir como ela, um sorriso frágil e débil. Tive o cuidado de remover todas as poucas fotografias da casa e as trazer comigo, é impossível que encontrem fotos dela ou minha. Sem prova alguma. Se me perguntarem um dia se é possível cometer um crime perfeito, eu diria que sim. Mas tente ser cuidadoso. Escolha suas armas, não deixe vestígios e talvez o local não seja tão importante quanto você ser idêntico a sua vítima.

Ouço o meu nome ser chamado através da porta, estão me chamando para retornar à ala três da enfermaria psiquiátrica, antes de ir vejo novamente o meu reflexo e sorrio para a imagem do espelho, confundindo-me entre ela e eu.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Olá. Tudo bem? Fico feliz que você tenha chegado até no final do conto. Que tal deixar nos comentários o que você achou?

Apreciadores (5)
Comentários (3)
Postado 16/10/20 15:13

A genialidade desse texto é imensa! E esse final? Sinceramente, estou sem palavras para descrever o quanto essa obra explodiu a minha mente! Definitivamente entrou no meu top 3.

Obrigada por compartilhar esse texto conosco!

Parabéns ♥​

Postado 23/11/20 11:48

Muito obrigada, sinto-me feliz por ter gostado da história! ♥​

Postado 16/10/20 22:16

WOW!!! Já me vi entusiasmada pelo título. Realmente deve ser complicado cometer o crime perfeito, mas não parece impossível, e a prova está aqui, não é mesmo?

Uma narrativa maravilhosa e rica em detalhes. Amei!

Parabéns!

Postado 23/11/20 11:48

Talvez não seja impossível... Obrigada pelo comentário!

Postado 14/05/21 11:52

Nossa, estou impressionada!!

Quem diria que no fim assassino e vítima tivessem a mesma aparência, isso foi genial demais!!

E realmente, a melhor forma de esconder um assassinato hahahaha

Muito bom, senhorita Victoria!!

Um grande abraço <3

Postado 15/05/21 16:07

Hahaha eu acho que sim! obrigada pelo comentário!!!