Decidiram vestir fantasias de nobres, ignorou o fato de que a grande maioria deveria escolher a mesma fantasia, queria ser uma princesa, um desejo reprimido de infância. Na noite da festa o salão estava repleto de casais em trajes semelhantes, talvez as festas na idade média tenham sido assim, disse somente para seu acompanhante escutar. Tinham se conhecido através de Beatriz em uma confraternização qualquer, dois ou três meses antes, encontros cotidianos que não são memoráveis. A decoração havia sido improvisada na quadra do ginásio, consistia em algumas luzes, mesas com salgadinhos e caixas de som onde ficava uma das traves.
Viu Beatriz entrar acompanhada no salão, alguém que não conhecia, ela com maquiagem imitando uma caveira mexicana, ele de jogador de futebol, cumprimentou-os com um golpe de vista. A seleção típica de músicas para festas como essa era seguida fielmente, apesar do clima melancólico de último dia de aula o ambiente era animado. Pensou no que faria no ano seguinte, se continuaria vendo sua única amiga, nas horas de sono perdidas para estudar para a prova de recuperação de Física. Seguia seu par em movimentos suaves conforme a música quando as luzes do ginásio foram apagadas, o alvoroço dos presentes foi imediato, antes que pudesse perguntar qualquer coisa as luzes voltaram a iluminar o salão de festas improvisado. Por um momento achou que tivesse sido apenas uma piscada de olhos demorada, indecisa abraçou seu acompanhante, após o abraço ele se afastou com um gesto de despedida.
No lado oposto da quadra observou Beatriz, sozinha, caminhar em sua direção. A música voltou a tocar, as engrenagens invisíveis do mundo não podiam parar.